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Crime

Está instalado um novo “caos comercial” na vila-sede do distrito de Palma, no norte da província de Cabo Delgado. Depois de as Forças de Defesa e Segurança (FDS) terem garantido, no princípio deste mês, o transporte seguro de diversos produtos alimentares e de higiene e limpeza da vila-sede do distrito de Nangade à sede distrital de Palma, agora são acusadas de atrasarem as colunas militares, facto que agudiza a escassez de comida, sabão e combustíveis líquidos naquele ponto do país.

 

Automobilistas, que reportaram o facto à nossa reportagem, contam que diversos camiões, lotados de produtos alimentares e de higiene e limpeza, estão retidos, há dias, na sede distrital de Nangade, à espera de uma ordem de partida, que nunca mais chega.

 

Segundo as fontes, a cada dia que nasce, os militares informam que a escolta irá partir no dia seguinte, mas nunca chega a acontecer. “Todos os dias dizem que amanhã vão sair e nada mais acontece e nós não podemos arriscar, porque temos medo”, disse um automobilista, que revela estar há uma semana à espera do “sim” das FDS.

 

Devido a esse facto, dizem as fontes, o custo de vida continua alto naquela parcela do país, devido à escassez de produtos alimentares. Os moradores continuam a reportar preços exorbitantes para a compra de comida ou sabão.

 

Lembre-se que a via marítima tem sido, até ao momento, a mais segura para o transporte de pessoas e bens de Pemba à Palma, desde que os insurgentes bloquearam, em Mocímboa da Praia, a única via asfaltada que liga a sede distrital de Palma com o resto da província, em Agosto de 2020.

 

Aliás, após este triste episódio, o transporte de bens e pessoas passou a ser feito através do distrito de Nangade, usando-se uma via de terra batida, que atravessa o Posto Administrativo de Pundanhar, em Palma, porém, em Setembro foi alvo de sucessivos ataques terroristas, facto que levou as FDS a introduzirem, no princípio deste mês, colunas militares para garantir a segurança no transporte de bens e pessoas. (Carta)

O vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), Bertolino Capitine, alertou ontem que o Estado não irá ganhar o conflito armado em Cabo Delgado, se a população local for hostil às forças governamentais.

 

"Podemos ter canhões de último grito, mas se a população é hostil ao Estado moçambicano, não haverá vitórias", afirmou Bertolino Capitine, num encontro com militares destacados no distrito de Macomia, um dos atingidos pela acção de grupos armados na província de Cabo Delgado, norte de Moçambique.

 

O oficial avançou que as FADM devem manter o empenho na erradicação do "terrorismo" em Cabo Delgado, assinalando, sem concretizar, que "o momento já chegou".

 

"O momento já chegou para destruirmos os 'contra- pátrias', as condições já estão criadas, aquilo que nós precisávamos para fazer face ao terrorismo já recebemos", enfatizou, sem especificar.

 

O vice-chefe do Estado-Maior General referiu que a derrota dos "terroristas" será uma forma de honrar o chefe do Estado-Maior General das FADM, Eugênio Mussa, que morreu há uma semana vítima de doença.

 

Eugênio Mussa disse em Dezembro do ano passado que 2021 seria um "ano decisivo para resolver o pendente" em Cabo Delgado, derrotando os "contra-pátria".

 

A referência do vice-chefe do Estado-Maior General à necessidade de as FADM manterem relações saudáveis com a população dos distritos afectados pela violência armada em Cabo Delgado ganha importância num contexto em que as forças governamentais têm sido acusadas de cometer abusos contra civis, atraindo a antipatia das comunidades na região.

 

A violência armada na província nortenha de Moçambique, onde se desenvolve o maior investimento multinacional privado de África, para a exploração de gás natural, está a provocar uma crise humanitária com mais de duas mil mortes e 560 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos, concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.

 

Algumas das incursões passaram a ser reivindicadas pelo grupo 'jihadista' Estado Islâmico desde 2019. (Lusa)

O Papa transferiu o bispo de Pemba, D. Luiz Fernando Lisboa, para a diocese brasileira de Cachoeiro de Itapemirim, concedendo-lhe ainda o título honorífico pessoal de arcebispo. O anúncio foi feito hoje em comunicado, pela sala de imprensa da Santa Sé.

 

O missionário brasileiro, natural do Rio de Janeiro, de 65 anos de idade, é membro da congregação dos Passionistas, onde se formou, tendo sido enviado para Moçambique em 2001. O Papa Francisco nomeou-o bispo de Pemba a 12 de junho de 2013.

 

D.Luiz Fernando Lisboa destacou-se, nos últimos anos, na defesa das populações da província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, alvo da violência de grupos que se declaram ligados ao Estado Islâmico.

 

O bispo esteve com o Papa no último dia 18 de dezembro, no Vaticano, antes de seguir para o Brasil, por motivos de saúde. A Diocese de Cachoeiro, no Estado do Espírito Santo, leste do Brasil, encontrava-se vacante desde 7 de novembro de 2018. A Conferência Nacional de Bispos do Brasil reagiu a esta nomeação com uma nota divulgada online.

 

“Enaltecemos a sua presença missionária como bispo em Pemba, diocese situada numa região marcada pela guerra que já causou a morte de mais de 2 mil pessoas e mais de 500 mil deslocamentos. Especialmente em Cabo Delgado, alvo constante de ataques. Destacamos também a sua contribuição à Conferência Episcopal de Moçambique, servindo-a como secretário-geral e coordenador do Departamento Social”, refere a CNBB ao novo arcebispo.

 

Por sua vez, a Conferência Episcopal de Moçambique disse, também em comunicado de imprensa, estar agradecida ao Papa “por nos ter dado (…) este grande missionário do Brasil como Bispo da nossa querida Diocese de Pemba”.

 

“Queremos também agradecer a Sua Excelência Reverendíssima Dom Luiz Fernando Lisboa pelo abnegado trabalho pastoral realizado entre nós (…), mesmo em tempos e situações tão difíceis”, afirmou a Conferência Episcopal de Moçambique.

 

Referir que para o lugar de Dom Luiz Fernando Lisboa, o Papa Francisco nomeou o Dom António Juliasse Ferreira Sadramo, actual Bispo Auxiliar de Maputo. (agencia.ecclesia.pt & Carta)

As Forças de Defesa e Segurança (FDS) têm estado, nos últimos dias, a intensificar as suas acções de combate aos terroristas, com recurso a meios aéreos, bombardeando algumas bases localizadas na região do rio Messalo.

 

Fontes da “Carta” garantem que, desde semana finda, se ouvem explosões, assim como se vêem helicópteros militares a sobrevoar a região do rio Messalo, onde se acredita haver uma das maiores bases do grupo terrorista. Não há dados concretos em relação aos resultados dos bombardeamentos, porém, avança-se haver baixas no grupo terrorista. Um dos que garantem haver sucesso na ofensiva das FDS é o historiador e membro activo do “G40”, Egídio Vaz, que diz terem sido abatidos alguns líderes do grupo nos distritos de Muidumbe, Mocímboa da Praia e na região do rio Messalo.

 

...e reforçam efectivo em Nangade

 

Encontra-se reforçado o efectivo das Forças de Defesa e Segurança (FDS) destacado para o posto transfronteiriço de Mandimba, distrito de Nangade, província de Cabo Delgado, após o ataque levado a cabo pelos terroristas contra uma equipa da Polícia de Guarda-Fronteira, no passado dia 22 de Janeiro.

 

De acordo com as fontes, o ataque resultou na morte de sete pessoas, para além da pilhagem dos bens da população. Aliás, esta acabou fugindo da aldeia, devido ao clima de insegurança. No dia do ataque, garantem as fontes, as FDS contavam com um efectivo de cerca de 50 homens, que não conseguiu repelir a ofensiva dos terroristas.

 

Entretanto, no passado dia 02 de Fevereiro, o grupo atacou as aldeias de Lijungo e Nkonga, que se localizam a cerca de 50 Km da vila-sede do distrito de Nangade. Aqui, os terroristas mataram e ainda roubaram produtos alimentares. As fontes asseguram que, até o último fim-de-semana, encontravam-se no local. (Carta)

Parece já haver luz verde para o reabastecimento de produtos alimentares, por via terrestre, na vila-sede do distrito de Palma. Poucas horas depois de termos publicado a triste realidade que se vive naquele ponto da província de Cabo Delgado, recebemos informações dando conta que, desde a passada terça-feira, uma escolta militar, organizada pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS), em parceria com os milicianos locais, tem assegurado o transporte de bens alimentares e de produtos de higiene e limpeza, da vila-sede do distrito de Nangade até à vila-sede do distrito de Palma.

 

De acordo com as fontes, entre terça e quarta-feira, pelo menos 10 viaturas terão sido escoltadas, de modo a garantir uma travessia segura, na região do Posto Administrativo de Pundanhar, distrito de Palma, onde, ultimamente, os insurgentes têm realizado incursões armadas, de modo a isolar Palma dos restantes distritos da província.

 

A “boa nova” poderá minimizar os impactos causados pelos ataques terroristas, no comércio, onde os empresários eram obrigados a usar o mar, como a única alternativa segura à Estrada Nacional no 380, para o transporte de produtos alimentares. Também poderá aliviar as famílias, que eram obrigadas a pagar quase o triplo para adquirir os produtos. Por exemplo, para comprar 25 Kg de arroz da terceira qualidade, estes devem pagar 4.000,00 MT contra os 1.100,00 MT a 1400,00 MT praticados nas outras cidades do país. (Carta)

Um estudo do Observatório do Meio Rural (OMR), encomendado pelo GAPI (uma instituição financeira de desenvolvimento), defende a necessidade urgente de se definir políticas imediatas de desenvolvimento socioeconómico na província de Cabo Delgado, como forma de conter os avanços do terrorismo.

 

De acordo com a pesquisa, divulgada esta semana, por aquela organização da sociedade civil, a intensificação do conflito teve um profundo impacto sobre as populações, traduzindo-se na destruição e interrupção de actividades económicas e circuitos comerciais, aumentando a pobreza e a insegurança alimentar.

 

“A deslocação forçada de mais de meio milhão de indivíduos coloca um forte desafio à assistência humanitária, mas também em termos de reassentamento populacional. A fragilização e abandono do Estado nas zonas de conflito, o aumento da pobreza e do desemprego aumentam o potencial de recrutamento de jovens para grupos violentos”, consideram os pesquisadores João Feijó, António Souto e Jerry Maquenzi, que conduziram a pesquisa.

 

Assim, para reverter o cenário, os pesquisadores recomendam o alargamento urgente de serviços socioeconómicos, incidindo nas áreas da saúde, educação, mas também de extensão e assistência financeira para reabilitação de actividades económicas. Recomendam também a necessidade de se facilitar o acesso a factores de produção, para o reinício de actividades produtivas.

 

No documento, de 62 páginas, consta ainda o desenvolvimento de infra-estruturas de apoio à economia local, reabilitando-se vias de acesso, sistemas de irrigação, electrificação e telecomunicações; e a implementação de políticas macro-económicas, descentralizando o orçamento de Estado para os locais mais afectados, alargando a concessão de subsídios, reduzindo a carga fiscal ou intervindo ao nível da taxa de juro, protegendo sectores económicos estratégicos e geradores de emprego.

 

Também são propostas, a capacitação institucional das organizações do Estado, prevendo a (re)construção de edifícios, fornecimento de tecnologia e formação de recursos humanos, assim como um reforço da transparência e prestação de contas; e o desenvolvimento de espaços de participação cívica, capacitando associações locais, capazes de se constituírem em movimentos de pressão em defesa dos seus interesses socioeconómicos.

 

Entre os locais a serem implementadas estas acções, constam o distrito de Palma, o Planalto de Mueda, o Eixo Balama-Montepuez, o Litoral Sul, o Vale do rio Lúrio e as zonas periurbanas de Pemba, Montepuez, Mueda e Ibo.

 

No distrito de Palma, por exemplo, dever-se-á rentabilizar a cadeia de valor do gás, apoiando pequenos negócios nas áreas de hotelaria, restauração e entretenimento, mas também na produção alimentar, agro-processamento, cuidados pessoais e serviços diversos; enquanto no Planalto de Mueda, pode-se retirar proveito de um clima de altitude, com elevada pluviosidade, apostando na produção pecuária e agrícola, assim como pequenos serviços.

 

Em relação ao Eixo Balama-Montepuez, a pesquisa aponta a rentabilização das infra-estruturas e experiências no agronegócio, procurando integrar milhares de deslocados, apostando na agricultura (de rendimento) e pecuária, no processamento de produtos agrícolas, madeira e mobiliário, na pequena indústria de construção, hoteleira e de restauração, mas também em serviços de transportes, comércio e pequenos serviços diversos.

 

Já no Litoral Sul, pode-se integrar centenas de milhares de deslocados na economia urbana de Pemba e rentabilizar-se o potencial turístico, apoiando pequenas actividades turísticas e de cuidados pessoais, mas também produção agrícola, pesqueira e pecuária de abastecimento à cidade, serviços de frio e de transformação de recursos pesqueiros e frutas, comércio e serviços diversos.

 

Por seu turno, no Vale do Lúrio, zona de maior concentração populacional e de pobreza, com elevado número de deslocados, dever-se-á apoiar actividades agro-pecuárias, do agro-processamento, transporte e comércio e pequenos serviços diversos; e as zonas periurbanas (de Pemba, Montepuez, Mueda e Ibo) devem ser priorizadas e constituídas como zonas transversais de intervenção, por serem áreas de concentração de jovens deslocados e desempregados.

 

Entre os grupos sociais a beneficiar, avança o estudo, consideram-se prioritários os deslocados internos, principais vítimas directas do conflito, que estão privados de meios de subsistência, totalmente dependentes de apoio humanitário e em processo de reassentamento.

 

Também são prioritárias, as famílias monoparentais, chefiadas por mulheres, particularmente vulneráveis e com efeitos positivos sobre o empoderamento das mulheres, diminuição da fecundidade e da pobreza, aumentando o bem-estar das famílias e prevenindo a radicalização dos mais novos; grupos etnolinguísticos estigmatizados, reduzindo sentimentos de discriminação e o potencial da adesão a grupos violentos.

 

Devem, igualmente, ser prioritários os jovens, promovendo a respectiva integração social e económica, em particular através de programas de requalificação de mercados periurbanos, tornando mais eficazes as mensagens de apelo à não adesão a grupos radicais.

 

Referir que os ataques terroristas duram há três anos e já provocaram a morte de mais de duas mil pessoas e a deslocação de mais de meio milhão de indivíduos, na sua maioria provenientes dos distritos de Mocímboa da Praia, Quissanga, Macomia e Muidumbe. (Carta)

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