Director: Marcelo Mosse

Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

Textos de Marcelo Mosse

terça-feira, 23 novembro 2021 12:27

Quem era o chefe de Manuel Chang?

Ernesto Gove, ex-Governador do Banco de Moçambique, assume que o contrato assinado entre Proindicus e o Credit Suisse, com garantia soberana, tinha uma irregularidade - a falta de autorização do Banco de Moçambique - mas essa irregularidades era "suprivel". Como? Por vista grossa.

 

Tendo em conta assunto "soberania" e a qualidade dos actores do processo (Sise, MPF e Chang), a irregularidade foi suprida liminarmente, violando-se a Lei; Gove disse que o BM foi impelido a isso também porque Manuel Chang deixou claro, enfatizou, que tinha sido mandatado.

 

Por quem?, perguntou o juiz.

 

Só ele, Chang, pode dizer - respondeu Gove.

 

Esta insinuação só pode remeter para um nome: o Chefe de Manuel Chang na altura.

 

Quem era ele? Eu já não me recordo. Alguém se lembra?

segunda-feira, 08 novembro 2021 10:49

O cúmulo da hipocrisia

O colonialismo pilhou nossos recursos à exaustão. Capitais europeias foram erguidas com nossas riquezas. Sugaram os fósseis, o petróleo, alimentando suas indústrias. Retiveram nossa riqueza depositada em seus bancos por políticos corruptos. Arrastaram Moçambique para um calote sem precedentes. Poluiram o mundo e, agora que a situação está preta, negam a Moçambique o direito de explorar o seu gás. O quê? É isso mesmo! Nós não temos o direito de poluir, apenas sob certas condições.

 

 

O carvão também está em risco. Mas suas empresas andam por cá...areias pesadas, grafite, diamantes. Quem controla? A pilhagem chinesa é visivel a olho nu. A pilhagem ocidental camuflada...como no gás, com práticas de sonegacao fiscal sem paralelo. Esta manif em Glasgow contra Moçambique merece um manguito do tamanho global.

O anúncio pelo Ministério Público da abertura de um processo contra o advogado Chivale é o exemplo dúbio de uma justiça supersónica. Na tenda da BO foram vertidas várias situações de eventual branqueamento de capitais, como é o caso do condomínio turco na Matola e de proprietários de casas de câmbios, mas nenhum processo autónomo foi anunciado. O Ministério Público devia evitar este registo persecutório, com cheiro a vingança contra um grupo que abraçara a narrativa de que o julgamento é político, vituperando a seu bel prazer contra a PGR, num jogo de gato e rato sem qualquer interesse para a justiça. Houve indícios de práticas criminais envolvendo muitas figuras. Então, que se actue contra todos.

domingo, 17 outubro 2021 10:11

Dr Bassith raptado pela segunda vez

O governo raptou nesta manhã o direito à indignação e o grito de socorro do Dr Bassith. É uma forma de proteger os raptores, porque reprime quem está contra eles. 

 

Um médico, o Dr Bassith, é raptado. O PR Filipe Nyusi se indigna e lança o recado do ultimato contra a gang raptora, que se move no seio da Polícia. Um comparsa policial é assassinado. A sociedade aprecia. O ultimato parecia ter funcionado. A voz do Presidente ouvida.

 

Entretanto, os dias passam e médico continua no cativeiro. Não se conhece o valor exigido para sua libertação. Os tectos vão baixando. Agora, não são magnatas. Uma filha de dono de pequeno restaurante...e, agora, um médico. Um médico que se multiplica em horas para ganhar a sua vida e salvar outras. Um simples profissional liberal. 

 

E se se confirmar o caso do filho do Salimo Abdula, eles vão se aproximando do poder político, dos filhos do poder. Imagina! E é esse poder que reprime quem busca solidariedade, abafando o grito de socorro da sociedade. Os médicos de Maputo foram proibidos de mostrar que condenam os raptos. Sua mensagem condenatória fere o governo, atinge as cúpulas e por isso não convém. E os raptores se sentem mais protegidos. Afinal, o governo "cagou" nos médicos.

 

Este país deve ser refundado. Este modo feudal de Estado basta. Democracia? Ora essa...

segunda-feira, 04 outubro 2021 10:37

O Governo não pode esconder mais um provável calote

segunda-feira, 30 agosto 2021 14:33

A psicologia da negação em Ndambi Guebuza

O primogénito de Armando Guebuza barricou-se na negação. Ele nega tudo, não explica nada. Mesmo diante de evidências documentadas. O significado é um: desvalorizar todo o processo de produção de prova, invalidar o Tribunal, profanar a PGR e evitar o máximo possível que seus episódios no calote (como a compra de carros de luxo) se tornem alvo da chacota pública, penetrando profusamente no húmus do nosso anedotário colectivo.

 

Diferentemente de Teófilo, que preferiu defender-se usando o recurso da intelectualização (e tornando-se o protagonista principal da cena), Ndambi optou pela negação, deixando cinicamente o palco para o juiz. A estratégia é tornar sua audição uma brevidade.

 

A negação é um mecanismo de defesa proposto por Anna Freud, que envolve a recusa em aceitar a realidade, bloqueando assim os eventos externos da consciência. É um mecanismo que as pessoas usam para lidar com situações altamente stressantes.

 

Um “negacionista”: recusa-se em aceitar o problema (Ndambi fugiu à maioria das questões mais problemáticas); encontra maneiras de justificar seu comportamento (o Ministério Público “manipulou” a investigação); culpa outras pessoas ou forças externas por causar o problema (o procurador Alberto Paulo mentiu; sua assinatura foi falsificada); mantém esse comportamento apesar das consequências negativas (Ndambi investiu no mutismo perante evidências arrasadoras); evita pensar no problema (ele fez tábua rasa sobre seus investimentos no segmento automóvel de luxo, de Ferraris e outros, e no imobiliário sul africanos através da famigerada Pam Golding)

 

Ndambi vive um dilema profundo. A difícil escolha entre admitir e negar. É uma questão de tomada de decisão. Em condições normais, ele devia escolher a opção que lhe garantisse a utilidade máxima da decisão (tal como Mutota fez, consciente, em certa medida, de ter prevaricado e aceitar os factos imputáveis até à medida suportável de uma eventual condenação).

 

Mas Ndambi mostra seu medo em relação ao poder incriminador da admissão (confissão). Nele, a utilidade de um resultado possível não influencia sua admissão. Este comportamento decorre da narrativa que a família Guebuza tem vindo a vender: a de que este julgamento é uma farsa política, a ideia de que mesmo que ele colabore, o resultado esperado de uma admissão seria inútil.

 

O silêncio de Ndambi remete para uma estratégia: ganhar tempo até chegar a altura de comprometer Filipe Nyusi, forçando uma saída política para o dilema. Ou seja, o desprezo de Ndambi pelo tribunal é o desprezo ao Estado e ao regime vigente, antevendo-se nos próximos dias o agudizar das tensões entre Guebuza e Filipe Nyusi. (Marcelo Mosse)

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