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Maputo -

Actualizado de Segunda a Sexta

sexta-feira, 08 julho 2022 09:09

SERNIC vai apresentar os suspeitos "raptores" de Ahmed Anwar, mas onde está o raptado?

O Servico Nacional de Inestigação Criminal (SERNIC) vai apresentar hoje, em Maputo, com toda a pompa e circunstância, um grupo pessoas apontadas como tendo sido os raptores do empresário Ahmed Anwar, dono do Hotel Royal e agente de Lojas Vodacom, sequestrado há pouco mais de uma semana.

 
Anwar foi raptado nas imediações das residências oficiais do Comandante Geral da Polícia e do Director Geral do SISE, localizadas no luxuoso bairro da Sommershield II, na Polana-Canico, em Maputo. A zona está recheada de agentes da chamada UIR (Unidade de Intervenção Rápida), a polícia de choque moçambicana. Também está cheia de câmaras CCTV nas suas artérias.


Fonte da corporação disse à “Carta” que o exercício agendado para hoje é uma “fuga para frente”, e que os suspeitos podem ser “bodes expiatórios”, nomeadamente mecânicos encontrados num carro pintado da mesma cor que a viatura dos verdadeiros raptores.


Em círculos policiais de Maputo, suspeita-se de agentes da própria UIR, um braço policial apontado como o actual centro operacional da indústria dos raptos (e de esquadrões de morte) depois que foi amplamente desmantelada, há meses, uma rede que operava dentro do próprio SERNIC, cujos operacionais foram detidos em 2021.

 

As nossas fontes colocam uma questão central: se os supostos raptores vao ser apresentados, onde está o raptado?


A suspeita do envolvimento de agentes da UIR na indústria dos raptos ficou patente após o rapto do Anwar, numa zona altamente protegida por elementos da unidade. O empresário foi raptado sem coação por arma de fogo; foi simplesmente agarrado pelos braços e levado para dentro de um carro.

 

Este rapto teve lugar poucos dias depois de um curso de formação especializada de uma brigada anti-rapto ter sido interrompido por falta de verbas, de acordo com a publicação África Monitor, editada em Lisboa.

 

Em Outubro do ano passado, o médico de clínica geral Basit Gani, foi raptado numa zona também fortemente policiada pela UIR, nomeadamente nas imediações da residência oficial do Ministro do Interior, na altura Amade Miquidade, na Avenida Friedrich Engels, em Maputo.


Grosso modo, agentes da UIR tem actuado sob instruções superiores. E são premiados. Em 7 de Outubro de 2019, cinco agentes da unidade assassinaram barbaramente o activista social Anastácio Matavel, em Xai Xai. Os agentes haviam recebido “promessas de promoção”, caso a operação se concretizasse.

 

Dois meses e 20 dias depois, três dos cinco agentes viram suas promessas concretizadas, a 27 de Dezembro de 2019. Foram promovidos. Edson Silica foi promovido ao cargo de Sub-Inspector da Polícia, enquanto Euclídio Mapulasse e Agapito Matavele foram elevados às categorias de sargentos da Polícia, conforme se pode atestar dos Despachos nº6412/ GCG/2019 e nº6447/GCG/2019, todos assinados a 27 de Dezembro pelo Comandante Geral da Polícia, Bernardino Rafael.(Carta)

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