Entrevista com Nuno Rogério, autor do livro "O Cabo da Intriga": Intrigas e ódio em Moçambique tem participação de moçambicanos de topo.
É uma personagem que as autoridades moçambicanas não nutrem muitas simpatias, principalmente depois de ter mostrado que, quando fuma suruma de Muidumbe, não se lembra do que faz. Mas é das poucas fontes até aqui que teve a coragem de escrever sobre os corredores da fofoca institucionalizada ao serviço do Estado moçambicano que ficou conhecida como Gê-40. É uma equipa de choque criada no segundo mandato daquele cota que já não se lembra de Nhangumele e que vem remodelando com a entrada dos lambe-botas estagiários que nos últimos tempos têm-se mostrado muito agressivos. O autor diz que a fofoca, a mentira, a intriga e o ódio tem participação de moçambicanos de topo. Acusa o Estado moçambicano de não dar prioridade o combate ao puxa-saquismo institucionalizado e alerta: se Moçambique se transformar num salão de intrigas e Maputo se transformar num campo de ódio, nós temos um problema grave, não só para o povo, mas também para o governo e o próprio partido FRELIMO.
Canal de Moçambique: Começamos por questionar: que livro é este?
Nuno Rogério: O livro é essencialmente uma conjunção de dois estudos. Um estudo que eu desenvolvi em 2014 sobre a criação do famigerado Gê-40 que tem vindo a embaraçar a liberdade de imprensa e de expressão em Moçambique, e um recente estudo sobre o ressurgimento do mesmo grupo Gê-40 já com mistura de membros entre jovens e veteranos académicos, advogados, físicos, jornalistas e desocupados que se caracterizam por serem usuários de um vocabulário mais insultuoso e que não escondem a sua cara-de-pau e que são apadrinhados por altos comandos do sistema.
Canal de Moçambique: Essa participação desses altos comandos do sistema, para não dizer moçambicanos, tem alguma influência ou participação de alguns intelectuais nacionais?
Nuno Rogério: Tem uma grande participação de intelectuais nacionais.
Canal de Moçambique: Ao nível do topo ou ao nível da base?
Nuno Rogério: Ao nível do topo. Nós publicamos recentemente, e o livro também o diz, uma lista de académicos e intelectuais moçambicanos conhecidos que se filiaram a esse movimento Gê-40, principalmente residentes em Maputo. Mais recentemente, a partir de 2016 e 2019, portanto no fim do primeiro mandato do engenheiro ferroviário, verificou uma série de concidadãos nessa infame equipa com a entrada de jovens historiadores, advogados e alguns velhotes físicos nucleares e gestores de empresas jornalísticas que entregaram toda a sua reputação na arte do kiwismo, como diria um concidadão. Portanto, essa avalanche tem a ver com as nomeações de gratificação e recompensa aos antigos Gê-40 a altos cargos de gestão pública e governativa. Pode se considerar um grupo bastante peculiar na sua actuação. Alguns até viajam a Nova Iorque a procura de alguma postura pública.
Canal de Moçambique: O que leva a que esta forma de actuação do Gê-40 em Moçambique seja peculiar?
Nuno Rogério: O Gê-40 de Moçambique é igual ao que se chamou de inquisição na igreja católica, que começou no século XII na França, cujo objectivo era combater a heresia. Mas o perigo do Gê-40 está no seu poder corrosivo das bases do poder (eleitorado) que pode culminar com o descrédito e uma reforma interna de grandes proporções do partido FRELIMO, no poder desde 1975, assim como aconteceu com a reforma protestante e a contrarreforma católica que se verificou nos séculos seguintes.
Canal de Moçambique: Mas o governo tem noção disso?
Nuno Rogério: Olha, nigga, eu não dei esta entrevista. Se você publicar, eu vou desmentir. Vamos parar no tribunal, bro!
Esta entrevista podia continuar, mas o Nuno fumou de novo.
- Co'licença!