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quinta-feira, 23 setembro 2021 06:53

"A bolada que está a vulgarizar o País": Carta presenciou negociatas de entrada e circulação de imigrantes ilegais no Aeroporto de Pemba

O voo estava marcado para as 13:20 horas, Pemba – Maputo, do último domingo (19), e quis o destino que, pelas 11:50 horas a nossa reportagem estivesse no Aeroporto de Pemba, tendo feito o “check in” e se dirigido à sala de espera para posteriormente sermos encaminhados para a sala de Embarque. Eis que, quando chegamos ao Embarque, deparamo-nos com a presença de cinco cidadãos de nacionalidade bengali, com ar de preocupação, olhando para tudo quanto era lado.

 

Por volta das 12:20 horas, chegou um funcionário que, segundo apuramos, era um quadro superior dos Serviços Provinciais de Migração de Cabo Delgado, vestido de roupa civil e com um arquivo de documentos carimbados e assinados, em pleno domingo. Sentados a menos de 7 metros de mim, observei um processo negocial que culminou com a assinatura de documentos, autorizando que os emigrantes seguissem viagem para a capital moçambicana.

 

Entretanto, o funcionário em questão foi “negociar” com os seus colegas escalados para aquele turno, tendo um deles “resistido”, negando que cidadãos bengalis entrassem para a sala de Embarque.  Nesse momento, vi um dos bengalis retirando de uma mala um maço de notas em meticais e moedas estrangeiras, tendo "molhado a mão" do referido profissional, ao que foi permitido passar pelo scanner, a sala de embarque e seguido viagem para Maputo. Curiosamente, ele seguiu viagem sentado quase ao lado de um alto quadro do Ministério do Interior que seguiu viagem no mesmo voo.

 

Chegados a Maputo, os mesmos transitaram livremente. De fontes do sector migratório, "Carta" apurou que as negociatas de género envolvem muitos quadros do ramo e que existem tabelas devidamente estipuladas que partem dos 1 500 USD por pessoa, em diante, e que o caso presenciado, fotografado e filmado pela nossa reportagem é o "pão de cada dia" dos profissionais do sector, da Polícia da República de Moçambique e dos colaboradores das empresas aéreas que operam no solo nacional.

 

De referir que, em Janeiro do presente ano, "Carta" publicou uma investigação de género sobre a indústria sofisticada da imigração ilegal, tendo revelado que os documentos e vistos eram falsificados nos aeroportos de Islamabad, Lahore (Paquistão), Dar-Es-Salam (Tanzânia) e Pemba e Maputo (Moçambique), e depois estes cruzam a fronteira ilegalmente para a África do Sul.

 

Na ocasião, após a divulgação da reportagem, o Porta-voz do Serviço Nacional de Migração (SENAMI) em Cabo Delgado, Ivo Campanha, confirmou a uma estação televisiva nacional a existência de uma rede internacional de imigração ilegal que usa o Aeroporto local para suas actividades ilícitas. (O.O.)

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