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Maputo -

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segunda-feira, 30 março 2020 05:49

Covid-19/Profissionais da Saúde em Moçambique trabalham desprotegidos: falta de máscaras ou de prudência?

Médicos, enfermeiros, assistentes e outros profissionais da saúde trabalham sem protecção (máscaras, luvas e álcool) nos principais hospitais da cidade de Maputo, numa altura em que os números de pessoas contaminadas por coronavírus mostram uma tendência de subida e sendo os centros de saúde o principal ponto de convergência de todos os cidadãos que se sentem incomodados. A situação causa uma grande preocupação para os utentes dos serviços de saúde.

Até este domingo, as autoridades da saúde já tinham identificado 103 pessoas que tiveram contacto directo com os oito casos já confirmados, dos 217 já testados pelo Instituto Nacional de Saúde. Estudo divulgado recentemente pela “Carta” mostra que, se não forem tomadas medidas duras, o cenário poderá ser crítico na chamada Pérola do Índico.

Por se tratar de um assunto que está a alarmar o mundo e havendo necessidade de reforço das medidas de prevenção, tendo em conta que o fluxo de pacientes aos centros de saúde, por conta da aproximação do inverno, tende a aumentar, “Carta” visitou o Hospital Central de Maputo e os Hospitais Gerais de Mavalane e José Macamo para medir o grau de preparação do pessoal da saúde em termos de material de protecção do novo coronavírus.

Dentre vários pontos, observamos que o pessoal da saúde (na maioria médicos) se apresentava perante os pacientes sem luvas e, dos poucos que tinham máscaras, as mesmas estavam no pescoço e em algumas situações era possível ver máscaras no braço.

Por exemplo, no Hospital Geral de Mavalane, um médico, que atendia as crianças no serviço de pediatria do banco de socorro, tinha a máscara no pescoço e sem luvas. À medida que entrava um novo paciente, o profissional da saúde em causa nem sequer desinfectava as mãos com álcool, sendo que a sua maior preocupação era atender os pacientes de forma rápida para descongestionar a longa fila que se via do lado de fora.

Já no Hospital Central de Maputo, a maior unidade sanitária do país, observava-se a existência de sabão líquido logo à entrada do Banco de Socorro, mas sem balde de água para lavar as mãos. “Agradecia que passassem o sabão e procurassem dentro do hospital um local onde tem água para lavarem as mãos antes de se dirigirem ao balcão de aceitação”, disse o agente de Segurança que se encontrava na porta.

“Carta”, que também se fez passar de paciente, assim o fez e de uma forma minuciosa fomos observando as pessoas que estavam em serviço e quase que ninguém foi encontrado com luvas, mesmo aqueles que transportavam roupas de cama de pacientes. Porém, a máscara era quase que indispensável naquela unidade sanitária. Em algum momento, bateu-nos aquela curiosidade de entendermos porquê os profissionais de saúde estavam apenas com máscaras, porém, sem luva. Para satisfazermos a nossa curiosidade, conversamos com uma médica que nos disse o seguinte: “a máscara é aconselhável para pessoas doentes, mas alguns médicos optam em usar a máscara para se proteger da contaminação e evitam pôr as luvas porque estas são recomendadas para aquele médico ou enfermeiro que vai atender um paciente e para cada doente deve-se usar um par de luvas e jogar no lixo imediatamente, mas se assim o fizermos podemos em algum momento ficar sem material, por isso, optamos em usar álcool para desinfectar as mãos à medida que atendemos uma nova pessoa”.

Entretanto, não conseguimos ver a garrafa do desinfectante, pelo que questionamos se era falta do material ou negligência. “É difícil responder esta questão, porque no sector onde trabalho todo o pessoal anda protegido e ainda não ouvimos sequer algum colega reclamar por falta de material de protecção. Se isso estiver a acontecer pode ser por departamento, mas na minha área temos tudo”, garantiu uma funcionária daquela unidade sanitária.

Já no Hospital Geral José Macamo, o cenário não era diferente. As máscaras estavam lá: algumas no pescoço e outras tapando a boca, mas as luvas estavam bem distantes dos médicos. De paciente em paciente, cada um com seu papel para o registo do diagnóstico, os médicos seguiam trabalhando normalmente. Nos corredores era possível ouvir os pacientes dizendo que os médicos estão a atender os doentes com muito medo. A imagem que ilustra este artigo é de uma técnica de laboratório do Instituto Nacional de Saúde, única que entidade realiza testes para o Covid 19 em Moçambique. Ela não usa a máscara. (Carta)

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