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quinta-feira, 30 janeiro 2020 06:05

Coronavírus: O retrato “desolador” de alguns estudantes moçambicanos na China

Alarmados! É como parte dos 450 estudantes moçambicanos residentes em diferentes Cidades da República Popular da China se sentem, numa altura em que as autoridades chinesas dizem que o coronavírus já matou 170 pessoas e infectou mais de 7.742 pessoas. O coronavírus é uma infecção que se manifesta através de febres, tosse seca, coriza, dores de garganta, dor de cabeça, náuseas/vómitos e pneumonia.

 

O impacto do coronavírus na vida das pessoas na China e nos outros países é enorme, uma doença cujo infectado deve ficar de dois a 10 dias de incubação, uma vez que se transmite através de gotículas, aerossóis, contacto directo através de toque ou aperto de mão e contacto indirecto com objectos ou superfícies contaminadas.

 

Nas entrevistas concedidas à “Carta” esta quarta-feira, 29, e nas quais pediram anonimato, descrevem que a situação é desoladora. Numa breve explicação, a primeira estudante entrevistada disse: “o vírus começou em Wuhan e está a espalhar-se por todo o lado. Todos os supermercados estão fechados e os campus de todas as faculdades estão fechadas, o mais difícil é não poder sair para comprar refeições, porque os locais onde compramos legumes e outros produtos estão fechados”, contou a estudante.

 

Questionada sobre a ajuda da embaixada moçambicana na China, a nossa entrevistada disse: “não sei se estão a ajudar outros alunos, porque nós aqui não”. Um outro estudante afirmou: “eu só sei que o governo chinês não está a ser transparente quanto à toda a informação. Vamos pensar, se o total de casos como eles dizem são os tais 4 mil em toda a China, porque a necessidade de construir novos hospitais às pressas. Mas, enfim, eu entendo que é para não deixar outras pessoas em pânico”, indagou o estudante.

 

De acordo com o entrevistado, “quanto ao governo, nossos irmãos que estão em Wuhan estão a morrer de fome e nunca ouvi falar que eles estão a apoiar de alguma forma (cestas básicas pelo menos) porque eles não têm como sair de casa para ir atrás de comida, tanto que a Cidade também está a ficar sem mantimentos”, explicou.

 

Indo mais, o estudante afirmou: “meu irmão vive naquela cidade, falo com ele todos os dias, pelo menos uma vez ao dia e ele só reclama de fome, porque só come para manter o estômago. Ele até tinha sugerido que meus pais pagassem passagem para ele voltar, mas eles não têm como intervir, sem consentimento da embaixada e a embaixada deve negociar com o governo chinês”.

 

Acrescentando, avançou: “muitas embaixadas negociaram com a China para levarem seus patriotas de volta para casa. Ainda na segunda-feira, 27, 250 indianos foram evacuados”.

 

“O que me está a deixar intrigada é essa falta de informação que pessoas têm, os nossos pais também não nos estão a dar a devida atenção ou algo parecido. Pensam que está tudo sob controlo”, desabafou a entrevistada. A estudante afirmou: “é algo que nem os chineses, que se dizem ser os tais, estão a conseguir controlar a propagação”.

 

A estudante revelou ainda à nossa reportagem que ontem ficou triste quando recebeu mensagem do pai, a pedir que se mantivesse calma. “Ele prefere que eu morra para não ter problemas com a embaixada de Moçambique”. Um outro estudante residente em Beijing disse: “essas cenas que vocês estão a ouvir é na província de Wuhan, aqui em Beijing estão a controlar para o vírus não se espalhar, aliás, fecharam as portas para pessoas que vêm das outras províncias não entrarem”. O nosso interlocutor explicou ainda: “o governo ainda não deu notícias da escola, que todo o mundo está à espera, nosso semestre foi adiado”.

 

Posição diferente dos outros estudantes entrevistados pela “Carta” tem Anselmo Sulumate, estudante moçambicano de economia e comércio internacional, na Cidade de Wuhan, Província de Hubei, na República Popular da China através de um vídeo posto a circular nas redes sociais explicou que “a Cidade de Wuhan é composta 38 estudantes moçambicanos, e que a mesma encontra-se isolada devido as orientações das autoridades chinesas. Ninguém entra e ninguém sai”.

 

 

Sulumate disse que relativamente a alimentação existem alguns supermercados locais abertos e que a embaixada tem contactado com os estudantes moçambicanos residentes na Cidade de Wuhan. Sulumate explicou que até ao momento ainda não houve nenhum estudante estrangeiro infectado pelo coronavírus. O mesmo estudante pediu a comunidade moçambicana para estar tranquila e que eles estavam a ter um atendimento devido, até porque foram orientados a se manterem nos seus quartos. 

 

Governo suspende emissão de vistos e garante estar a monitorar a situação

 

Relativamente aos moçambicanos residentes na China, a Embaixadora de Moçambique na China, Maria Gustava, em entrevista à Televisão de Moçambique (TVM), realizada na terça-feira, 28, disse: “30 estudantes residentes na Cidade de Wuhan já haviam sido contactados e todos estavam de boa saúde”. A embaixadora garantiu que todos têm recebido as orientações necessárias para se manterem precavidos.

 

Respondendo às questões apresentadas pelo Jornalista da TVM, a embaixadora confirmou que a Cidade de Wuhan estava a atravessar uma crise de alimentos. Porque grande parte das lojas estavam fechadas. Portanto, “as autoridades da universidade providenciaram mecanismos para aquisição de víveres a partir de lojas de cidades distantes”, afirmou Maria Gustava.

 

No entanto, para a prevenção do Coronavírus, a 2ª sessão ordinária do Conselho de Ministros (CM), realizada na terça-feira em Maputo, decidiu suspender a emissão de vistos para China como forma de evitar a exposição de cidadãos moçambicanos ao coronavírus que já matou mais de 130 pessoas e 6 mil encontram-se infectados na China.

 

Segundo a Porta-voz do CM, a Ministra da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Helena Kida, até terça-feira não havia registo de nenhum moçambicano residente na China infectado pelo vírus. Kida disse que as medidas restritivas no movimento migratório seguem às que já estão a ser implementadas em várias partes do mundo.

 

De acordo com a nova timoneira do pelouro da justiça, “a limitação de saída ou entrada de pessoas que venham da China é uma das formas encontradas para reforçar a prevenção, uma medida também adoptada pela China que está a limitar a emissão de vistos. As autoridades de saúde em todo o mundo estão em alerta e acompanham a evolução do vírus”.

 

Na passada sexta-feira, 24, a Directora Nacional de Saúde pública, Rosa Marlene, disse aos órgãos de comunicação social em Maputo que o risco da eclosão do coronavírus no país é baixo, sobretudo, devido às condições climáticas predominantes.

 

Falando à imprensa, Rosa Marlene afirmou: “nós sabemos que as condições favoráveis às doenças gripais têm a ver com o inverno, na altura fria e na China, neste momento, é inverno. Nós estamos numa altura quente, portanto, a probabilidade de transmissão da infecção respiratória é muito pequena. Sendo assim, o risco de nós termos aqui um surto da pneumonia ou de gripe de vida (A), o coronavírus, neste momento, é extremamente pequeno”.

 

Relacionado com o surto por coronavírus (nCoV), o Ministério da Saúde (MISAU) emitiu um documento datado do dia 28 de Janeiro, em que explica que o coronavírus pertence a uma família de vírus que causam doenças que variam entre as gripes comuns e as doenças mais graves, como a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) e a síndrome respiratória grave (SARS-CoV).

 

Segundo informa o MISAU, no passado dia 31 de Dezembro de 2019, a República Popular da China reportou à Organização Mundial da Saúde (OMS) a existência de casos de pneumonia de etiologia desconhecida detectados na Cidade de Wuhan, na Província de Hubei e a 7 de Janeiro de 2020 foi identificado um novo coronavírus (2019-nCov) como causador da doença.

 

Dados do MISAU até o dia 27 de Janeiro avançavam que o coronavírus já foi confirmado em países como China com mais de 2.761 casos, EUA com cinco, Tailândia com cinco, Singapura com quatro, Austrália, República da Coreia, Japão e Malásia todos com quatro casos cada, França com três, Vietname com dois, Canadá e Nepal com um respectivamente. Em países africanos ainda não foi registado nenhum caso até ao momento.

 

Esta quarta-feira, 29, a SIC Notícias, um órgão de comunicação português, noticiou que um grupo de cientistas australianos recriou o coronavírus em laboratório, o que pode ajudar a desenvolver uma vacina para combater a propagação da doença.

 

Para a OMS, Moçambique não está isento de risco. Devido ao modo de transmissão da doença, todos os países estão em risco. Esta situação levou as autoridades da OMS a considerarem o coronavírus como a quarta doença mundial depois da febre-amarela, H1N1 e Ébola. Devido a isto, as autoridades de saúde reforçaram a presença de técnicos e medidas de controlo nos aeroportos nacionais com principal enfoque para cidadãos provenientes de 14 países dos continentes asiáticos e europeus. (Omardine Omar)

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