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terça-feira, 21 janeiro 2020 05:46

Beira… à beira da “submersão”

Um verdadeiro dilúvio fustigou a cidade da Beira, nos últimos dois dias.

Iniciada na tarde do último domingo (19), a intempérie trouxe à memória os horrores vividos aquando da passagem de um outro fenómeno natural de proporções bíblicas: o Idai.


Pois então, ainda não refeitos dos efeitos daquele famigerado ciclone que devastou a cidade, os beirenses voltaram a viver idêntico pesadelo, durante mais de 24 horas, com as violentas chuvas a não darem tréguas.

De acordo com relatos de cidadãos ouvidos pela “Carta”, a cada hora que passava o temporal intensificava-se, inundando casas e cortando vias de acesso, principalmente nos bairros periféricos.


Aliás, importa salientar que grande parte destas infra-estruturas ainda nem tinham sido totalmente reconstruídas, razão pela qual se encontravam em situação de extrema vulnerabilidade, não resistindo, portanto, a mais este “embate”.

Só para se ter uma ideia, de acordo com o delegado do INAM em Sofala, Achado Paiva, a previsão de chuvas para (todo) o mês de Janeiro era de 232 milímetros. Todavia, só entre as tardes de anteontem e ontem, a precipitação atingiu os 100 milímetros.

O pantanoso bairro da Praia Nova – onde a intrusão das águas do mar se conflui com as águas pluviais – voltou a ser (o mais) arrasado, tal como acontecera em Março do ano passado.


Ao que sabemos, praticamente todas as famílias que ali habitam (na chamada “Zona B”, que é a área residencial do bairro) haviam sido reassentadas em locais mais seguros, logo a seguir ao Idai. Porém, praticamente todas elas acabaram paulatinamente regressando à Praia Nova, alegadamente porque só ali conseguem “fazer dinheiro”. Os resultados dessa renitência puderam ser vistos nos últimos dois dias.

Todavia, há muitas mais zonas da cidade que também foram severamente afectadas por esta calamidade. Ndunda, um bairro de expansão, a meio caminho de Nhangau, foi uma delas – e neste caso porque não existem valas de drenagem.


Noutras áreas residenciais, nem mesmo a existência de valas de drenagem impediu que as enxurradas causassem estragos inenarráveis, uma vez que aquelas (valas) se encontram maioritariamente entupidas, “vítimas” da acção humana. São os casos de Mave, Aeroporto, Vaz, Munhava, Macurungo-Manganhe e Inhamizua.

Sistema de Drenagem “vandalizado”


Aliás, esta questão do impedimento das vias de escoamento das águas pluviais não se resume apenas às valas existentes nos bairros da periferia. O novo Sistema de Drenagem de águas pluviais, que atravessa praticamente toda a cidade, também se mostrou ineficaz nos últimos dois dias, quando posto à prova pela violência da tempestade: os resíduos sólidos que são despejados pelas pessoas, no rio Chiveve, acabaram entupindo o desaguadouro das Palmeiras – o que levou a que, ao longo do dia de ontem, várias equipas da edilidade fossem espalhadas pela urbe trabalhando na sua limpeza, para permitir que as águas pluviais circulassem normalmente, minimizando assim o impacto das cheias.

 

Recorde-se que este Sistema de Drenagem de águas pluviais da cidade da Beira foi inaugurado – pelo Presidente da República – há pouco mais de um ano (Setembro de 2018), e custou 50 milhões de dólares americanos, financiados pelo Banco Mundial.

 

A expectativa era de que o empreendimento viesse a acabar com o fenómeno das inundações e, consequentemente, das doenças hídricas. Porém, como se pode ver, se se continuar com estes níveis de vandalismo, o empreendimento pode vir a colapsar.

 

De acordo com a nossa fonte, além de uma colossal quantidade de plásticos, foram retirados pelas equipas municipais todo o tipo de objectos, desde pneus, objectos metálicos, peças de roupa e até malas.

 

Ao princípio da noite de ontem, quando contactada pela “Carta”, uma fonte do INAM revelou que a previsão era de que as chuvas na capital de Sofala abrandassem consideravelmente logo às primeiras horas de hoje. (Carta)

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