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terça-feira, 10 maio 2022 07:05

Renamo e Manuel de Araújo em rota de colisão e pode estar perto novo divórcio

renamo manuel

Pode estar à vista um novo divórcio entre a Renamo e o Edil de Quelimane, Manuel de Araújo. Em causa estão as recentes declarações do autarca, proferidas numa entrevista à Televisão de Moçambique (TVM), na qual alega não haver democracia no seio dos partidos políticos moçambicanos, incluindo a Renamo, tal como existem membros do seu partido que o incitam a desviar fundos do Município em benefício da “perdiz”.

 

Segundo Manuel de Araújo, a falta de democracia nos partidos moçambicanos está evidente e dá exemplo do Secretário-geral da Frelimo, Roque Silva, que em Julho do ano passado disse aos membros do partido no poder para não se candidatarem aos órgãos do partido, mas sim esperarem pela indicação do partido.

 

“Nós queremos fazer democracia sem democratas. Os nossos partidos não são democráticos. A Frelimo deu uma prova inequívoca disso. O Secretário-Geral da Frelimo disse, e todo o mundo ouviu, ninguém se deve alvorar de querer concorrer para os órgãos. Uma instituição em que ninguém pode concorrer não é democrática. É ditatorial. Os partidos da oposição gostam de copiar a Frelimo e só espero que a Renamo, na reunião do Conselho Nacional, não implemente esse modelo. Não pode ser. Nós temos de ser diferentes”, disse Manuel de Araújo.

 

O comentário não agradou a direcção daquele partido que, nesta segunda-feira, convocou uma conferência de imprensa para rebater as suas palavras. Aos jornalistas, José Manteigas, porta-voz da “perdiz”, disse não constituir verdade que na Renamo não há democracia, pois, “o senhor Manuel de Araújo, eleito Edil de Quelimane, passou por uma eleição interna de candidatos” e que também “é membro do Conselho Nacional, eleito no VI Congresso, em Janeiro de 2019”.

 

“O partido permitiu que o senhor Manuel de Araújo, mesmo exercendo o cargo de Edil de Quelimane, encabeçando a lista da Renamo, se candidate a cabeça-de-lista para o cargo de Governador da província da Zambézia, processo de eleição interna que contou com outros três candidatos. Porque ele obteve a maioria de votos, o partido Renamo e seu presidente respeitaram a democracia interna e aceitaram a sua candidatura”, acrescentou Manteigas, para quem Manuel de Araújo está a representar um “teatro gratuito e sensacionalista”.

 

Desvio de fundos para reabilitação da Delegação da Renamo em Quelimane

Na entrevista concedida à TVM, publicada na noite da última sexta-feira e rebatida pelo próprio Manuel de Araújo na manhã de sábado na sua página do facebook, o Edil de Quelimane revela que foi abordado por um membro da Comissão Política da Renamo para desviar fundos do Município para reabilitação do edifício do partido, naquela cidade.

 

“Na Renamo, nós estamos a lutar para implementar a democracia, mas cada vez que nós damos uma opinião, aparece alguém a puxar-nos as orelhas, ou aparece um membro da Comissão Política a dizer que o Araújo não está a tirar fundos do Município para reabilitar o edifício do partido. Num Estado de Direito Democrático, não é possível um membro da Comissão Política dizer uma asneira dessas. E quando diz, o partido deve emitir um comunicado a distanciar-se desse membro da Comissão Política porque está a sujar a imagem do partido. Mas não aconteceu. Quer dizer o quê? Quer dizer que o partido concorda? Mas não é o que está no estatuto. Então, na reunião do Conselho Nacional, o partido deve explicar-se”, defende De Araújo.

 

José Manteigas refuta as acusações e rebate com os seguintes argumentos: “não é e nunca foi prática nem cultura da Renamo aproveitar-se da sua posição e muito menos instruir, obrigar ou, por qualquer outra forma, forçar um membro ou quadro do partido a praticar actos ilícitos em benefício de quem quer que seja, porque esta postura é milimetricamente contrária à nossa ideologia e filosofia governativa. Somos pela tolerância zero à corrupção ou outras condutas desviantes que põem em causa o bem público”.

 

Segundo Manteigas, a única coisa que aconteceu, em Quelimane, foi uma exortação deixada por Hermínio Morais, membro da Comissão Política, no sentido de os membros do partido procederem ao pagamento de quotas como forma de ajudar a Renamo a resolver alguns problemas, como é o caso da reabilitação da Delegação Política, na Cidade de Quelimane. A exortação foi feita numa reunião que teve lugar no passado dia 29 de Março e na qual Manuel de Araújo esteve ausente.

 

“Em Abril passado, este equívoco foi esclarecido numa reunião dirigida pelo Secretário-Geral, na Delegação Política Provincial, onde o senhor Manuel de Araújo esteve presente”, afirma Manteigas, classificando os pronunciamentos do autarca de Quelimane como “autênticas inverdades” e que “resultam de clara intenção de divisionismo”.

 

Ausência de líderes alternativos

O que também constitui “autênticas mentiras encomendadas” e com “pretensão dolosa de manchar e caluniar o partido Renamo e seus quadros”, segundo Manteigas, é o facto de Manuel de Araújo defender não haver líderes alternativos a nível dos partidos políticos, incluindo a “perdiz”.

 

“Participei das cerimónias do dia da Liga da Juventude da Renamo, como forma de dar força à Liga da Juventude, porque eu acho que a Liga da Juventude deve ser o celeiro da democracia em cada partido. Se formos a ver, os nossos partidos não formam líderes alternativos. A Renamo não tem líderes alternativos dentro do partido. O MDM não quer e vimos isso no Congresso e a Frelimo idem”, defende De Araújo.

 

O porta-voz da Renamo refuta esta ideia, no entanto, não apresenta a visão do partido. Apenas defende que Manuel de Araújo deve concentrar-se na solução dos problemas da autarquia, a ser mais proactivo e a fazer-se mais presente. “Os órgãos de comunicação social não devem ser o meio privilegiado para os membros manifestarem seja o que for, porque temos órgãos cuja missão é zelar pelo normal funcionamento do nosso partido”, acrescentou Manteigas.

 

Refira-se que Manuel de Araújo está na Renamo desde Julho de 2018, depois de se ter divorciado do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), após desinteligências com a liderança daquela formação política. Aliás, De Araújo entrou no MDM em 2011, depois de ter abandonado a Renamo, partido do qual já chegou a ser deputado da Assembleia da República. Com o actual cenário, aventa-se a possibilidade de haver um novo divórcio entre a Renamo e Manuel de Araújo. (A. Maolela)

 

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