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terça-feira, 23 maio 2023 09:18

Zimbabwe homenageia Samora Machel!

Escrito por

Adelino Buqueeeee min

Na recente visita do Presidente da República de Moçambique ao Zimbabwe, foi lançada a pedra para a edificação de um Museu denominado Samora Machel, com o objectivo de valorizar os feitos heroicos deste e, acima de tudo, render-se homenagem aos Libertadores de África. Na minha opinião, antes tarde do que nunca, pois Samora Moisés Machel merece isso e muito mais por toda a região da África Austral e no mundo. Moçambique foi dos poucos países que aplicou as sanções Económicas decretadas pela ONU contra a Rodésia de Ian Smith e os prejuízos causados à nossa Pátria estão, de forma geral, na caixa abaixo.

 

“No relatório da Comissão Nacional do Plano de 1984, estimava-se em cerca de 556 milhões de dólares o custo total dos prejuízos dos quatro anos que precederam a independência do Zimbabwe. Por seu turno, o Conselho Económico e Social das Nações Unidas estimou os custos entre £70.000.000 e £82.000.000. Alguns países responderam ao apelo das Nações Unidas para a ajuda económica de Moçambique, mas no geral a sua contribuição foi muito insignificante para reparar os danos causados. Foi neste contexto que em 1979 os países capitalistas avançados providenciaram 70,6 milhões de dólares, ou seja, 24,7% de toda a assistência prestada, a Escandinávia o equivalente a 50,5%, os Estados Árabes 23,2% e os países socialistas cerca de 0,3% do total.”

 

In Joel das Neves Tembe, Cadernos da História de Moçambique, UEM

 

Devo referir que a adesão da República Popular de Moçambique às sanções decretadas pela ONU foi consciente e tinha a noção dos prejuízos que adviriam desse acto. Moçambique tinha contabilizado tudo e acreditava nas promessas de apoio por parte dos países desenvolvidos e não só. Veja-se o Relatório apresentado na Organização da Unidade Africana em 1976.

 

“Entretanto, o relatório do governo de Moçambique apresentado ao Conselho de Ministros na 27ª Sessão Ordinária da OUA em 24 de Junho de 1976 indicava os seguintes problemas e consequências:

 

Que 2/3 das actividades do Porto da Beira e 1/5 do Porto de Maputo serviam os interesses da economia rodesiana;

 

O número de trabalhadores ferro-portuários era estimado em 30.000, dos quais se devia

 

acrescentar outros 6000 empregados nas agências directamente envolvidas nestas actividades;

 

Os trabalhadores de Moçambique nas áreas fronteiriças que formalmente trabalhavam na Rodésia, agora em Moçambique à procura de emprego podiam ser estimados em 37.000;

 

Na Rodésia existiam 8000 trabalhadores com trabalhos sazonais e outros 80.000 com empregos fixos;

 

O encerramento da fronteira com a Rodésia resultava em perdas nos rendimentos do tráfego de mercadorias de e para a Rodésia e os outros territórios do interior na ordem de 72 milhões de dólares para o ano de 1976;

 

A aplicação de sanções resultava na perda de montantes avaliados em um milhão de taxas de aeroporto, 10 milhões por ano de serviço de carga, 750.000 de linhas aéreas;

 

Que o turismo estimado em 50.000 turistas/ano sofreria perdas no valor de 4,5 ou 5,5;

 

As exportações e importações com a Rodésia em 1975 eram estimadas em 5 milhões e 20 milhões respectivamente; segundo os resultados da Missão das Nações Unidas as perdas anuais em exportações eram calculadas em 3 milhões por ano e o aumento do preço das

importações era de 10 milhões; o défice total do comércio era estimado em 16 milhões, enquanto a balança de pagamentos sofria uma oscilação de 175 a 200 milhões de dólares nos dois anos seguintes;

 

Em termos financeiros Moçambique iria sofrer perdas no valor de 110 a 135 milhões;

 

A estas perdas se juntavam-se os problemas com as telecomunicações e com a água e energia eléctrica na região de Manica e Espungabera”;

 

in Cadernos da História de Moçambique.

 

 Conclusões

 

“Qualquer conclusão a apresentar teria de ser feita com um carácter preliminar, pois as grandes dificuldades no acesso a fontes primárias documentais e a necessidade de realizar entrevistas com as populações alvo constituíram as grandes limitantes. Todavia, depreende-se neste estudo o papel histórico que assumiu a posição tomada por Moçambique na alteração da correlação de forças na região a favor do movimento de libertação.

 

Não se tratou apenas de um simples encerramento de fronteiras, mas sobretudo de tomar posição no xadrez político e ideológico regional.

 

Por esta atitude, Moçambique transformou-se na principal vítima das sanções ao ver as suas escassas infra-estruturas a serem destruídas. Moçambique como país periférico e historicamente integrado no subsistema económico dominado pelos seus inimigos não poderia evitar ser a principal vítima. Este é o caso típico em que as sanções prejudicam a terceiros.

 

A aplicação de sanções à Rodésia para além de ter contribuído, em termos gerais, para a definição de um novo mapa ferroviário na região, ao se procurarem alternativas para os países do hinterland, consolidou a hegemonia da economia sul-africana, em particular do seu sistema ferro-portuário, sobretudo a partir de 1977 com o apetrechamento de Richards Bay e com a rápida instalação do sistema de contentorização.”

 

In Cartas da História de Moçambique, ©Joel das Neves Tembe

 

Departamento de História

 

Hoje propus-me a fazer a reflexão, trazendo dados e informação produzidos no tempo em que Moçambique decidiu aderir às sanções. Muitos poderiam pensar que foi uma decisão emocional, até porque alguns países beneficiários da benevolência de Moçambique não têm dado mostras de reconhecimento a Moçambique do sacrifício que consentiu para a libertação destes Países do sistema do Apartheid e do colonialismo interno, como foi o Zimbabwe.

 

Como consequência deste posicionamento dos beneficiários da nossa solidariedade, muitos moçambicanos se questionam sobre porquê Moçambique aderiu a uma luta de outros com consequências desastrosas para o País. Veja a satisfação de Samora Machel pela libertação do Zimbabwe.

 

“Ainda muito antes da independência nacional, o povo moçambicano não hesitou em verter o seu suor e seu sangue para apoiar a luta do povo irmão do Zimbabwe. Para que o Zimbabwe fosse livre, o nosso povo sofreu massacres, agressões, destruição sistemática de seus bens, actos de terrorismo e de subversão sem que, por um só momento, vacilasse a sua determinação.

 

Pelo contrário, a cada golpe do inimigo, mais se reforçava a nossa convicção de que só seríamos totalmente independentes quando o Zimbabwe fosse livre”.

 

In Samora Moisés Machel.

 

Por isto e muito mais, que o digam as províncias como Manica, Sofala o quanto sofreram com a guerra movida pelo “TABAQUEIRO” Ian Smith, enfim, a história vai se acertando aos poucos e, por isso, congratular o Governo do Zimbabwe.

 

Adelino Buque

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