“Os quatro jovens que colocaram a placa nomeando uma rua de “AZAGAIA” foram todos recolhidos para as celas e a placa foi removida”
In Adriano Lázaro, Facebook
“Desde já, manifesto minha solidariedade para com os jovens detidos e encarcerados nas celas, ao mesmo tempo que manifesto o desejo de correcção dos métodos que se deve usar para atingir um determinado objectivo. Não basta eu acordar e decidir que as coisas devem ser assim ou assado, sobretudo, quando a coisa entra na esfera pública. Uma coisa é eu adorar e admirar alguém, outra, bem diferente, é fazer com que a pessoa que eu adoro seja adorada por todos ou pela maioria e merecer espaço no lugar público. Haverá que se fazer algum percurso para que tal desiderato aconteça e, no caso da Toponímia, as regras existem e são conhecidas. Finalmente, um apelo às autoridades, ainda que reconheça que os jovens não seguiram os trâmites da toponímia, por favor libertem-nos e eduquem-nos!”
AB
Herói “homem ilustre por feitos guerreiros ou de grande coragem, protagonista de uma obra literária ou cinematográfica etc.”
Heroico “próprio de herói, que denota heroísmo, enérgico, muito eficaz, ousado, diz-se de verso de dez sílabas com acento predominante na 6ª e na 10ª, designativo de estilo ou do género literário em que se celebram façanhas de herói”
In Dicionários do Estudante, Porto Editora.
Na manhã de 15 de Maio de 2023, vejo nas redes sociais que “quatro jovens foram recolhidos às celas”. Motivos: decidiram nomear uma Rua de AZAGAIA e a reacção dos internautas não se fez esperar. Alguns consideram os quatro jovens de “presos políticos” outros simplesmente escrevem nos comentários “é o País que temos” e pura e simplesmente, ficam-se por aí. O que julgo não ajudar para o aprofundamento de debates sobre o nosso pensamento individual e/ou colectivo.
Não existe nada de errado em um grupo de pessoas, devidamente identificado, decidir propor que o nosso ícone da música moçambicana ora falecido seja indicado como Herói. É claro que não será nada fácil, sabemos todos que as coisas não funcionam assim entre nós. Sabemos que, regra geral, quem identifica os Heróis é um determinado grupo seleccionado a “dedo” e sob orientações superiores do Governo do dia e “penetrar” nesse meio não é fácil, mas nem por isso deve-se menosprezar a sua existência. Deve-se começar pelo princípio e, caso não se dê ouvidos, entra-se por esta via da confrontação e não partir do princípio da confrontação!
Apesar de reconhecer a dificuldade de “penetração” não se deve encorajar a “rebeldia” porque, na minha opinião, as pessoas que encorajam ou que encorajaram esses jovens a enveredarem por essa via, hoje e neste momento, estão assistindo via Facebook, Whatsap e outros meios a sorte dos mesmos. Provavelmente, irão aparecer nas TVs a falarem da falta de “liberdade” em Moçambique, esquecendo que existe uma diferença entre a Liberdade e a Libertinagem ou anarquia. Pouco se importam porque quem sofre não são eles, mas os quatro jovens recolhidos às celas.
Admirar alguém, adorar alguém, qualquer um pode o fazer, mas o faz no recanto da sua casa, entre amigos e/ou grupo de pessoas. Mas quando essa admiração se pretende “impor” que todos o façam, transcende o direito de liberdade e passa a ser ditadura. Qualquer um não deseja ser imposto seja lá o que for. Diz a máxima que “a tua liberdade termina onde começa a liberdade do outro” por isso eu julgo que, no lugar de “Heroicizar” os quatro jovens, deve-se aconselhar sobre que procedimentos devem ser seguidos para se atingir um determinado objectivo e, caso não sejam ouvidos, poderem enveredar por outras vias.
Esta minha reflexão pode não merecer a atenção e respeito de muitos, sobretudo, aqueles que enveredam pelo uso do “sensacionalismo”, aqueles que gostam de confrontar-se com as autoridades estatais, que gostam de publicitar as incapacidades institucionais, esquecendo-se que essas instituições são nossas e a nós cabe capacita-los para melhor servir-nos. Vamos criticar sim, mas não vamos fazê-lo simplesmente para aparecer, devemos fazê-lo dentro de um quadro de legalidade e de justiça, partindo do princípio de que “não faça a outro o que não gostaria que te fizessem a ti”.
Aos jovens detidos, vai a minha solidariedade e correcção, solidariedade porque, na minha opinião, a prisão é o último recurso a ser usado pelo estado e acontece porque o indivíduo se mostrou recalcitrante e não me parece que seja o caso desses quatro jovens, salvo melhor opinião. Correcção porque, na minha opinião, no lugar de prisão, merecem ser corrigidos e orientados sobre os seus desejos, mostrando-lhes os caminhos a seguir para conseguirem esse desiderato. Não se deixem enganar jovens, a pátria é vossa e o futuro vos pertence!
Adelino Buque