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quarta-feira, 01 fevereiro 2023 09:02

África do Sul manifesta ingratidão para com Moçambique!

Escrito por

Adelino Buqueeeee min

“Existe um ditado chope que diz “se você ajudar alguém que não conhece, deve cortar-lhe parte do seu corpo, preferencialmente a orelha” para que amanhã se recorde de quem o ajudou. Moçambique pagou um preço muito alto para o fim do Apartheid, valores incalculáveis com a aplicação de sanções e o albergue dos militantes do ANC. Temos na Cidade da Matola um Memorial sobre o sucedido a 30 de Janeiro e como nos agradecem!? Vandalizando e saqueando bens dos nossos concidadãos. Esta é a forma de expressão de ingratidão jamais vista para com um povo que lhes foi generoso. Ai se Samora Machel vivesse para ver isto!”

 

AB

 

Nós, moçambicanos, sentimos na pele que as relações entre os dois países não estão bem, quer a nível dos povos, quer a nível oficial, entre os dois estados. Sentimos que há tendência de se subalternizar o Estado Moçambicano pela África do Sul e, na minha opinião, devemos dizer basta ao Governo da África do Sul! As relações devem beneficiar as duas partes, as relações que beneficiam somente uma das partes não são relações justas.

 

Nos recentes ataques dos bandidos sul-africanos, parece-me que o Governo daquele país sai em defesa dos seus bandidos. Pode não ser essa a realidade, mas, perante o silêncio ensurdecedor que aquelas autoridades manifestam, a conclusão não pode ser outra. Por outro lado, os moçambicanos que sofreram sevícias naquele território contam histórias de indiferença policial, mesmo que devidamente informada pelas vítimas, isto é, na minha opinião, inaceitável. Basta!

 

Mas também é preciso reconhecer a “inércia” das nossas autoridades do sector da Diplomacia e quer me parecer que a vinda a público da Ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação foi forçada pela imprensa nacional. A forma como comunicou e o semblante apresentado na Conferência de Imprensa não são de alguém preocupado com o terror que os seus compatriotas acabavam de viver. Tudo isto acaba não abonando a favor daquela instituição que nos deve defender no exterior. Moçambique já tinha ultrapassado essa fase de Diplomacia demasiado “silenciosa”, mas também não estou a dizer que deve ser “ruidosa”, deve ser prática e pragmática na sua acção a nosso favor.

 

Por exemplo, ontem, 30 de Janeiro, recordamos o ataque às residências e à Fabrica SOMOPAL na Matola, residências que albergavam membros do ANC residentes em Moçambique. Entretanto, no lugar de confraternizar, estávamos lamentando o sucedido com os nossos compatriotas. No lugar de falarmos de fraternidade, estávamos a falar de um escândalo de vandalismo contra as pessoas e sua propriedade privada. É preciso recordar o ANC e os sul-africanos no geral o papel e o preço que Moçambique pagou para a sua liberdade. Neste momento, o grosso dos dirigentes da África do Sul no activo conhece bem a história da sua liberdade e o preço que pagamos, ingratidão!

 

Não à retaliação por Moçambique!

 

Apesar de reconhecermos e doer a ingratidão dos sul-africanos, nós não podemos pensar em retaliação contra a África do Sul e cidadãos daquele País que demandam o nosso País, quer em negócios quer em Turismo. A nossa forma de ser e de estar nos impele a sermos mais responsáveis e cautelosos, mas nós não somos ricos. É urgente que se fale de ressarcimento dos moçambicanos pelos bens perdidos por vandalismo dos cidadãos daquele País. A África do Sul deve indemnizar os moçambicanos, devidamente identificados no vandalismo daquele País.

 

Existe a “narrativa” de que em Moçambique existem viaturas roubadas e que se encontram na província de Maputo. Se isso for verdade, eu penso que o Governo não é espaço de albergue de bandidos. Essas viaturas, uma vez identificadas, devem ser repatriadas para o País vizinho e entregues às autoridades competentes. Não pode um país inteiro pagar por culpa de meia dúzia de indivíduos, não é aceitável e tão pouco dignificante isso.

 

Nas redes sociais, alguns moçambicanos residentes e a trabalhar na África do Sul mostram-se revoltados com o seu próprio País porque acham que estão a pagar o preço de falta de acção das nossas autoridades. A Xenofobia é parte dessa forma de pagamento e nunca se sentou e se tomou uma decisão séria a respeito. Moçambique deve fazer-se respeitar, somos um país com mais de trinta milhões de habitantes, independente e soberano, afinal o que nos falta!

 

Reitero o meu apelo ao Governo de Moçambique para que saia em defesa dos seus concidadãos, não faz muito sentido isto que vivenciamos nos últimos dias, em que moçambicanos são vítimas de vandalismo na vizinha África do Sul com aparente indiferença das autoridades competentes. Moçambique precisa da África do Sul, mas a África do Sul também precisa de Moçambique, não são poucos investimentos daquele País em Moçambique, a era de venda exclusiva de mão-de-obra barata de Moçambique para África do Sul já era, acabou, vamos nos tratar de igual para igual ou somos diferentes!

 

Adelino Buque

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