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quinta-feira, 23 julho 2020 06:27

Assaltos, raptos e assassinatos: Os caminhos de uma indústria que controla o sistema em Moçambique – I

Uma investigação conduzida pela “Carta” revela que os assaltos, raptos e assassinatos, que são executados à luz do dia, envolvem, alguns deles, membros do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), empresários, políticos, reclusos e até moçambicanos baseados em países estrangeiros.

 

De acordo com a nossa fonte, envolvida nas investigações, o assunto é complexo e movimenta, anualmente, milhões de dólares norte-americanos. Aliás, a fonte confidenciou-nos que o empresário e filantropo Rizwan Adatia decidiu sair do país, devido à extorsão de que estava a ser alvo.

 

Lembre-se, Adatia foi raptado no passado dia 30 dia de Abril e posto em liberdade no dia 20 de Maio, numa operação realizada com a presença de jornalistas e com a Directora do SERNIC a deslocar-se ao “teatro operacional” de salto alto. Porém, a fonte avança que, mesmo após a sua suposta libertação, o empresário continuou a pagar somas avultadas aos sequestradores, o que motivou a sua saída e retirada da sua família do país por razões de segurança.

 

A fonte afirmou ainda que o crime organizado só será vencido se houver vontade política, pois, as pessoas influentes ganham a vida através do crime. Sem mencionar nomes dos agentes da Polícia, do SERNIC, políticos e outros facilitadores das acções criminosas, a fonte explicou que existem várias redes comandadas em diferentes locais, facto que lhes permite coordenar e determinar os alvos a sequestrar, extorquir e até assassinar.

 

O investigador disse à “Carta” que a situação se torna tão crítica porque o Governo não quer adquirir alguns equipamentos tecnológicos que permitem rastrear e investigar até conversas trocadas na rede social WhatsApp, mesmo que estes usem Wi-Fi.

 

A nossa fonte garantiu ainda que grande parte das contas bancárias, em que são canalizados os valores, estão domiciliadas no estrangeiro, o que dificulta o seu rastreamento. Aliás, o Comandante-Geral da PRM, Bernardino Rafael, disse, no último fim-de-semana, que os sequestradores têm recebido os valores de resgate em contas bancárias abertas no estrangeiro.

 

Este ano, recorde-se, já ocorreram sete sequestros, sendo que ainda está em cativeiro Kauchal Pandia, filho do proprietário da casa Pandia – loja de venda de capulanas – apesar de a família revelar ter pago “rios de dinheiro”. As Cidades de Maputo e Matola têm sido epicentros dos raptos, embora haja casos registados nas cidades da Beira (Sofala) e Chimoio (Manica).

 

Nesta quarta-feira, o SERNIC, a nível da província de Maputo, apresentou um suposto grupo de assaltantes à mão armada que, segundo Elvino Panguana, porta-voz do SERNIC, se preparava, nesta parcela do país, para assaltar um empresário sul-africano na Ponta D’Ouro, distrito de Matutuine, alegadamente porque a vítima tem um cofre em casa com valores em diferentes moedas estrangeiras.

 

Panguana disse, aliás, que um dos membros do grupo é um cidadão que forneceu armas aos sequestradores do empresário Rizwan Adatia. Acrescentou também que o grupo esteve, há dias, em Moamba, onde assaltou um cidadão na via pública.

 

Na verdade, as detenções têm sido frequentes, porém, as investigações nunca chegam aos mandantes. Como uma das maiores evidências de que o crime organizado controla o país, a fonte apontou o baleamento de Agostinho Vuma, Presidente da CTA, alvejado à luz do dia numa das avenidas mais movimentadas da capital do país e onde existem instituições do Estado guarnecidas pela Polícia. (Omardine Omar)

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