No passado dia 14 de Fevereiro, o dia dos namorados, provavelmente o leitor tenha acompanhado, protagonizado ou sido alvo de declarações e ou de gestos de amor. Umas mais lindas, outras nem tanto, e outras ainda inusitadas. Gosto das últimas.
“Pérola, a casa da Matola é tua!” faz parte do leque das inusitadas declarações e gestos de amor, pese que não tenha sido por ocasião do São Valentim, mas também um momento que homenageia o amor. Porventura, a maior e mais espontânea declaração ou gesto de amor por mim presenciado (não confundir com presenteado).
Eu estava com amigos num concerto musical. Em palco, a cantora angolana Pérola cantava e encantava. Não tardou que as emoções, femininas e também masculinas, fossem ao rubro. O auge foi durante a canção “Amor”. Não tenho como descrever o êxtase e o delírio total cuja magnitude roçara a requintes de histeria colectiva, tendo resvalado – tais eram os sinais – num orgasmo múltiplo colectivo.
No auge do clímax, a Pérola confessa que “…Graças ao amor/Hoje sinto o que nunca senti/E isso meu bem eu devo a ti/Eu devo a ti/ Por tudo o que eu vivo/Meu amor...”, e da multidão, sitiada de néctar, e enquanto estendia os braços capitulados, irrompe uma voz minha conhecida, que aos prantos e a plenos pulmões, repetidamente, gritava: “Pérola, a casa da Matola é tua!”
Não sei se a destinatária terá ouvido, mas a até então (pretensa) co-proprietária, vira-se para mim e diz: “Acabo de perder a casa da Matola”. Fora confirmar o facto, pois presenciara, fiz o que estava à mão: dei-lhe o conforto do meu abraço.
Tempos depois, em pleno voo de uma viagem à Angola, cruzo-me com a “Dona da casa da Matola”. Ganhei coragem e aproximei-me. Deu para perceber que o presente justificava. Nos abraços de despedida disse-lhe que tinha um amigo que talvez fosse o maior fã dela. Trocamos os números para eventual e devido seguimento.
Por pouco contava-lhe de que era a legítima proprietária de uma casa na Matola. Não fi-lo, pois, estou certo, que no acto da oferta não estavam reunidas as condições jurídicas para um acto consciente e responsável.
Seguramente, mesmo que para a Pérola “…Não existe lei nem uma explicação...”, se a jurisprudência pender para o não reconhecimento de amorosas promessas ou o da efectividade de presentes entregues em circunstâncias de fraqueza ou de delírio emocional, será caso para perguntar: Quo vadis, São Valentim?