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ME Mabunda

ME Mabunda

terça-feira, 11 julho 2023 13:33

Impávidos e serenos!

Em Junho de 2019, justamente há quatro anos, o mundo foi surpreendido com a notícia de que dois agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM) foram mortos por militares sul-africanos num tiroteio entre as duas partes havido no povoado de Ndumo, zona de Farazella, KwaZulu-Natal, ao longo da fronteira entre os dois países. Segundo as notícias na altura, os militares sul-africanos atravessaram a fronteira e vieram envolver-se no tiroteio do lado de cá. Qualquer coisa como alguém invadir a nossa casa e vandalizar-nos, espancar-nos e matar-nos na nossa própria casa! Muita coisa foi prometida, avultando aquele entendimento de que as duas autoridades iriam constituir uma comissão de inquérito para esclarecer o gravíssimo incidente entre Estados. Escusado será dizer que, hoje, mais de quatro anos depois, nem uma única palavra jamais foi dita. Apesar de o nosso bon vivant do comandante geral da PRM ter dado uma semana à parte sul-africana para se explicar e pedir desculpas! Ficou-se por aí até data hoje.

 

Este Janeiro também ficou na história relacionamento entre os dois países por ter registado a queima de autocarros, mini-buses e viaturas particulares diversas com matrículas moçambicanas do lado sul-africano na rota Maputo-Durban. As reportagens indicavam que indivíduos desconhecidos mandavam parar toda e qualquer viatura seguindo na viva, fosse para ou regressasse de Durban, ordenavam aos passageiros para saírem e incendiavam as viaturas. Algo inédito, que nunca tinha sido visto e vivido, mas que era feito à luz do dia. É tudo no pretérito perfeito porque, praticamente desde então, automóveis com matrícula moçambicana deixaram de cruzar aquela via. Digamos que a via está praticamente fechada para os nossos compatriotas usando as suas próprias viaturas; os autocarros de passageiros e mini-buses têm que usar vias alternativas, que estão a inviabilizar completamente o seu negócio! Escusado será igualmente referir que são imensíssimos os prejuízos infligidos aos moçambicanos com a interrupção de uma prática mais do secular… já os nossos avós rumavam para Debeni a pé em busca do el dorado! Pelo que se está a dar-nos a observar, tudo se ficou/fica por ali!

 

Ao longo do ano transacto, intensificaram-se os ataques a viaturas de particulares no troço entre Mbombela (ex-Nelspruit) e a fronteira de Ressano Garcia. Seja em marcha para um ou para outro sentido, seja estando na fila para desembaraço aduaneiro, é só ataques, ataques e ataques! As reportagens falam frequentes vezes de feridos e, sobretudo, de roubos, assaltos e vandalizações de bens dos compatriotas. E de Janeiro para cá os ataques subiram ainda mais de tom. Não há uma única semana sem relatos de assaltos e ou vandalizações a viaturas de matrícula moçambicana e ou a moçambicanos eles próprios. Escusado será igualmente referir que os prejuízos causados a Moçambique e aos moçambicanos são incalculáveis, extremamente altos! Todos os quadrantes moçambicanos, políticos, económicos, sociais, etc., referem-se, bastantes vezes e com precisão, aos danos que se vão acumulando do lado de cá. 

 

Como se os assaltos, vandalizações e roubos dos bens e das viaturas não fossem mais do bastantes, as notícias referem-se igualmente ao péssimo tratamento que é dispensado aos moçambicanos na sala de carimbos de passaportes na fronteira de LeBombo. Muita morosidade, poucos atendedores e falta de pressa. Se na parte moçambicana se leva 10 a 15 minutos para se carimbar passaporte, do lado sul-africano chega a levar-se três horas! Uma clara sabotagem aos moçambicanos.

 

Apenas mais um e último exemplo. Há dois meses, moçambicanos que há anos vendem os seus produtinhos no centro de Johanesburgo foram vandalizados e as suas barraquinhas destruídas e… expulsas de forma humilhante e desprezível para o seu país. Pessoas que há anos e anos venderam naqueles locais…

 

Consta que nalgum momento a ministra do Interior moçambicano até se deslocou às terras do rand e reuniu-se com as autoridades sul-africanas e a nossa chefe de diplomacia ainda mandou uma boca por aí. E mais nada! Estamos impávidos e serenos ante os completos destratos, assaltos, destruição de património, sevícias, humilhações e… que são infligidos aos nossos compatriotas. E ante a indiferença, senão cumplicidade, do governo vizinho.

 

Muita apatia da nossa parte!

 

ME Mabunda

terça-feira, 04 julho 2023 09:55

Indequê?... independência económica?

MoisesMabundaNova3333

A nossa lei-mãe plasma que a agricultura é a base do nosso desenvolvimento. Lá diz o número 1, do artigo 103: “Na República de Moçambique a agricultura é a base do desenvolvimento nacional.” Assim mesmo. E este arrazoado vem desde a primeira constituição da nossa República. Semanticamente, estamos a dizer que o nosso desenvolvimento tem como plataforma a agricultura, ie., que nos estamos a desenvolver tendo como munição, pilar ou artefacto, a agricultura. Este é o sentido literal, o conteúdo semântico desta colocação.

 

Há pelo menos duas questões que se põem aqui neste enunciado constitucional. A primeira é o pressuposto de que nos estamos a desenvolver. Estamo-nos a desenvolver mesmo? Se sim, a questão que emerge é: o que é afinal desenvolvimento? Todaro & Smith (2012 - 11 ed.) consideram que desenvolvimento deve ser visto como um processo multidimensional envolvendo grandes mudanças nas estruturas sociais, nas atitudes da população (dos indivíduos) e nas instituições nacionais, assim como uma aceleração no crescimento económico, na redução das desigualdades e desequilíbrios e na redução da pobreza. Na perspectiva destes importantes autores, vertida na sua fabulosa obra Economic for Development, desenvolvimento deve, na sua essência, representar toda a gama de mudanças através das quais todo um sistema social ultrapassou a fase de diversas necessidades básicas, de crescentes aspirações dos indivíduos e dos grupos sociais; e move-se de um paradigma de condições de vida percebidas e consideradas como insatisfatórias para uma situação e condições de vida material e espiritualmente melhores.

 

Se desenvolvimento é isto que estes autores formulam e defendem, o curioso é sabermos se a nossa sociedade já fez essa transição, de uma situação de condições de vida precárias para uma situação de melhores condições de vida material e espiritualmente. Certo é que a maioria da nossa população continua com condições precárias de vida, isto é, na pobreza; nalgum momento, falou-se de pobreza absoluta. A minha Chipada continua igual a si mesma décadas após décadas… quem não tem familiar que ajude de algures, está na pobreza extrema! Os indicadores de desenvolvimento humano das nações no mundo têm indicado a nossa pérola do Índico como estando nas posições abaixo, até dez de baixo para cima, desde os primórdios da nossa liberdade. Como é que dizemos, então, que estamos a desenvolver? Estamos a desenvolver ou estamos a subsistir, pelo menos a maioria do nosso povo? Se estamos em desenvolvimento, este está bastante lento.

 

A segunda questão decorrente da asserção de que a agricultura é base de desenvolvimento radica justamente em entender se a agricultura, particularmente a nossa, é mesmo base, plataforma, alicerce; se está a ser mesmo base de desenvolvimento! Para uma agricultura ser base de algum desenvolvimento, ela precisaria de ser uma agricultura comercial, largamente mecanizada, funcional e auto-sustentável; geradora de receitas substanciais capazes de alimentar a construção de infraestruturas diversas, unidades de produção e outros investimentos que propiciam o bem-estar, material e espiritualmente, aos moçambicanos. Convenhamos, ainda não chegamos à fase de a agricultura ser a base do desenvolvimento nacional, estamos muito longe!

 

Seria de bom tom reformular devidamente esta asserção. Semântica e objectivamente, é mais aceitável que a agricultura seja a base de subsistência dos moçambicanos, porquanto quase toda a população moçambicana pratica agricultura para o seu sustento, a tal agricultura familiar, conseguindo, diversas vezes, excedentes com base nos quais tenta satisfazer as suas outras necessidades básicas. É isto: nós ainda estamos numa agricultura de subsistência, não aquela que municie o desenvolvimento que muito almejamos.

 

Estamos a meter nas cabeças dos moçambicanos uma asserção que confunde.

 

Como confunde também o postulado de que agora estamos a lutar pela independência económica. Quase todos os anos, quando assinalamos a passagem de aniversário da nossa independência, a 25 de Junho, muitas personalidades da nossa praça, políticos, académicos e outras que tais, proclamam de boca cheia que agora, conseguida a política, estamos a prosseguir a independência económica.

 

O que será independência económica? Será uma nação conseguir satisfazer todas as suas necessidades materiais, ela por si só sem precisar de nada e nem de ninguém?!... Será isso, como se subsume semanticamente? Se está a significar isto - uma nação/economia não depender de nada, nem de ninguém -, a pergunta é: haverá tal nação/economia no planeta terra? Qual é? Muitas nações são autossuficientes em várias áreas, mas independentes!… o que pretendemos é uma economia capaz de prover as necessidades básicas dos moçambicanos. Básicas e depois as secundárias e depois as outras. É o que são as nações e economias pelo mundo. E a isso chamamos independência económica! Haverá uma economia independente?

 

Tentemos aprimorar as nossas aspirações e as respectivas formulações. Para não confundir as gerações vindouras e levá-los a lutarem por algo utópico!

 

ME Mabunda

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terça-feira, 27 junho 2023 07:40

Olá Paz

MoisesMabundaNova3333

(Ao Reverendo Dom Dinis Sengulane)

 

Poucos anos após o restabelecimento da paz em Moçambique, na sequência do Acordo Geral de Paz assinado na capital italiana Roma, a 4 de Outubro de 1992, o Reverendo Dom Dinis Sengulane, então Bispo da Diocese dos Libombos, brindou o mundo com a sua incrível imaginação. Em variadíssimas sessões, encontros ecuménicos, reuniões diversas, pedia a todos os participantes para pronunciarem sorridentemente a expressão Olá Paz! Tipo uma confissão de verdadeiro comprometimento, engajamento, entrega desinteressada; ou aquela circunstância em que um homem quando tenta conquistar uma mulher de quem sente uma grande paixão! E todo o mundo pronunciava Olá Paz, com toda a solenidade, sinceridade e do fundo do seu coração, como uma espécie de confissão de amor que se sentia pela paz, ou uma tentativa de atraí-la, conquistá-la e amá-la! Lembro-me de, na sequência, o Presidente Chissano ter comentado agradavelmente e sobretudo agradecido a criatividade de Dom Dinis Sengulane. O país deve muito a este homem!

 

E a expressão Ola Paz entrou para o vocabulário político e social nacional. No início, com mais ímpeto, maior frequência, depois com menos e, hoje, quase ninguém se lembra dela. Mas, certo é que ao longo deste tempo todo andamos a tentar conquistar a paz, a tentar amá-la e a tentar conservá-la. Ao que tudo indica, sem o conseguir, pois, de tempo em tempo, as matanças e os impedimentos de circulação prosseguiam. Depois de Roma, houve mais acordos, uns quatro outros no total, com nomes rebuscados.

 

Só que, como diz um ditado xangana, ‘swilo swa ku kala swinga heli swa lhola’, em português: não há nada, mesmo um mal, que perdure para todo o sempre! Conseguimos encontrá-la lá nas matas de Gorongosa e, sexta-feira 16 de Junho, ao invés de assinalarmos o massacre de Mueda, ou o dia do nosso Metical, encerramos a última base e recolhemos a última arma da Renamo, ao que se seguiram belíssimos discursos de ocasião. Intervenções confluentes na imperiosidade da necessidade de conservar a paz conseguida. Todo o moçambicano com acesso aos media e disponível viu aquela cena a partir de Gorongosa. O mundo viu e aplaudiu. Até hoje, as congratulações brotam de todos os quatro cantos do mundo. Parabéns a Moçambique e aos moçambicanos, parece que, finalmente, encontraram a paz! Olá Paz!

 

Só que, com muito espanto e lamentação, há moçambicanos que entendem que alguém ganhou a guerra contra outrem. Definitivamente, estou com dúvidas se vamos conseguir manter a paz que almejamos, ou auguramos, como gosta de dizer ultimamente o chefe do Estado. Se tivesse havido um vencedor, ter-se-ia imposto: um vencedor não é apresentado, impõe-se!

 

Estamos todos tão empolgados e emocionados que até nos esquecemos de certas aporias. Esquecemo-nos que aquela arma que Ossufo Momade entregou a Filipe Nyusi, que demonstrou não ser expert na matéria, não foi parar onde estava, nas matas de Gorongosa, por si só: ela não tem pernas, não anda, não se compra a si próprio, não dispara sozinha, ela não mata sozinha. Esquecemos que é uma mente humana que dela se serve/serviu: que a foi comprar onde a comprou, levou-a para onde a levou, fê-la disparar onde e quando bem lhe apeteceu; e fê-la tirar a vida a quem entendeu, ou destruiu os bens que entendeu destruir. Em palavras mais precisas, dela se serviu para a consecução de um determinado propósito!

 

Mais importante ainda, esquecemo-nos de que a luta não se faz somente de material bélico nas mãos. Mahatma Ghandi fez escola no mundo. ANC fez escola no mundo. Marchas, manifestações, absentismo, greves, paralisações… são também modalidades de luta. Portanto, o facto de a Renamo ter entregue as últimas armas não pode ser tido e entendido como, ipsis verbis, que ela abdicou de lutar pelos objectivos por que se tem batido desde… 1977! Que ficou reduzido a zero! Nada.

 

A par de jubilarmos, interessa agora decifrar o propósito que levou a que aquela arma fosse adquirida onde foi adquirida, trazida e usada para matar compatriotas. Uma oportunidade soberba de, com muita solenidade, seriedade e sinceridade, esmiuçarmos as razões que nos leva(ra)m a diferenças que conduziram a matanças, destruições e retrocessos no nosso desenvolvimento.

 

Todos os discursos apontaram para a necessidade de reconciliação e reunificação da família moçambicana. Há que traduzir estes conceitos em acções concretas. Falaram da necessidade de inclusão, de democracia genuína, de liberdades de facto, de boa governação, séria; pois, é chegado agora o momento de se decifrar o conteúdo de inclusão e implementar no concreto. Se não formos capazes de tudo isto e persistirmos na exclusão ou rejeição ao outro, a cercearmos as liberdades, a trapacearmos a democracia que escolhemos, continuarmos a praticar nepotismos, a patrocinar a corrupção, não terá valido nada todo o esforço despendido para chegarmos à paz. Voltaremos à estaca zero, àqueles ou outros bang-bangs!

 

E convém dizer uma coisa: nós não chegamos à paz! Chegamos, sim, a entendimentos sobre a paz. Como alguém disse e bem, a paz não é algo consumado, tangível; é, sim, um processo, um estado que precisa de muito cuidado e rigor na observância, conservação e manutenção das suas premissas. Como um jardim. A paz advirá dos actos que doravante formos a praticar. O que conseguimos é um momento em que dizemos: “ok, vamos recomeçar”! Tudo dependerá do que todos os moçambicanos forem a fazer daqui em diante, sobretudo aqueles que dirigem, decidem e orientam.

 

Olá Paz!

 

ME Mabunda

terça-feira, 20 junho 2023 07:05

Sobre a reforma compulsiva

MoisesMabundaNova3333

Depois de um prolongado sono, este ano, ou mais precisamente, de há uns três, quatro meses, acordamos e logo queremos mandar à reforma obrigatoriamente cerca de 19 mil funcionários e agentes do nosso aparelho do Estado! O que consta, bem, bem, nem, é que no processo de migração dos 400 mil funcionários e agentes do Estado para a nova plataforma electrónica de gestão de recursos humanos, descobriu-se que esses cerca de 19 mil têm 60 ou mais anos de idade e por lei devem ir à aposentação! A notícia não especifica quantos  funcionários exactamente irão à aposentação compulsiva por sector. Aqui e ali, vamos ouvindo que, entre os tais, há duzentos professores doutores da UEM, “muitos” médicos especialistas, quase todos os diplomatas (sobretudo embaixadores) nos Negócios Estrangeiros e… uns tantos magistrados!

 

Quando é que, como país, vamos ter um sistema nacional de estatística profissional, sério, moderno e à altura da “Sociedade de Informação” que vivemos. Não consigo perceber como é que é difícil termos estes dados - ou está

 

-se a ocultar deliberadamente -, quando estamos a falar que 400 mil funcionários foram integrados na nova plataforma electrónica de gestão dos recursos humanos, na sequência da nova tabela salarial única. A estatística é o método científico fundamental para a compreensão racional de qualquer empreitada, assunto ou situação. Sem ela, dificilmente se percebe o que se pretende.

 

De toda a forma, é com estes dados pobres com que temos de viver e formarmos as nossas percepções. O primeiro sapo que não aceita ser engolido é: porque será que só no processo de migração para a nova plataforma electrónica de gestão dos recursos humanos é que se descobriu que há 19 mil funcionários em idade de reforma? Antes disso não se sabia? Como? Não deveria ser o processo de o funcionário ir à reforma um processo normal em que, anualmente, ou de tempo a tempo, alguém aqui e ali vai à reforma ou porque atingiu a idade limite, ou o tempo de serviço? Tenho a impressão que se tivéssemos feito isso, não estaríamos a ser acordados com 19 mil que têm que ser aposentados obrigatoriamente dentro de 15 dias; ou serem barrados dos serviços! Quem não cumpriu a sua parte e porquê? Não cumpriu a sua parte e hoje empurrou o país para uma situação desastrosa destas! Em regiões sérias, haveria responsabilização!

 

Não estou a imaginar o que é mandar para casa de uma só vez 19 mil funcionários e agentes de Estado, entre os quais professores doutores, médicos especialistas, diplomatas, magistrados, docentes, enfermeiros e muito mais! Ao fazer isso, o nosso Estado estará a autofragilizar-se, a autocondenar-se a um paupérrimo desempenho no ranking das nações. Não tenhamos dúvidas. Estamos a dizer que o rácio médico-população é dos mais baixos do mundo… a estatística de 2021 dizia que temos 2500 médicos para 30 milhões de habitantes, o que perfaz o rácio um médico para 12 mil pessoas! E nós estamos a mandar médicos para casa! Há ainda muita falta de enfermeiros e outro pessoal hospitalar nas unidades sanitárias… e nós queremos mandar justamente aquelas pessoas para casa! Anualmente, há défice de professores em todas as províncias e em todos os níveis do nosso ensino, primário, secundário, médio, incluindo nas universidades! E nós vamos mandar docentes para casa! O que pretendemos mesmo?

 

A outra questão: afinal formamos para quê? Para mandar à reforma? É que para termos um especialista, seja médico ou não, um cientista de verdade, um magistrado de categoria suprema, um diplomata de categoria, precisamos de bom tempo; só se chega à tal posição já numa idade adulta. E nós já estamos a mandar reformar todas essas pessoas. Não engulo o rato ou ratinho de que há “professores doutores cujo desempenho é muito baixo e é desses que o sistema pretende livrar-se”! Se os há, os culpados são os gestores/o sistema no seu todo que não estabelecem indicadores de desempenho razoáveis para essa categoria, exigir o seu rigoroso cumprimento e sancionar no caso de inalcançabilidade! Assim, poderia separar-se o trigo do joio.

 

O outro rato que não entra é a ideia de que mandando para casa 19 mil funcionários, vai viabilizar-se a TSU. Vai-se sim sobrecarregar o sistema de pagamento de pensões e condená-lo à falência técnica… já não bastam os falaciosos milhares guerrilheiros da Renamo? O que vai viabilizar a tabela salarial única é a produtividade do país no seu todo, um sistema de cobrança de impostos eficaz e incorrupto, uma gestão incorrupta da coisa pública, uma governação racional, não esbanjadora, nem esbulhadora e um combate sério à corrupção. Enquanto a cobrança de taxas e impostos tiver dois pesos, duas medidas, tipo aquele empresário que importa carrões sem pagar um centavo; duplicação de instituições, tipo dois governadores e governos provinciais, ministérios a mais, esbanjamento e roubalheira do erário público, governação erante danosa e corrupção na sua melhor, tipo 500 milhões para em quatro meses se estabelecer um novo sistema de gestão municipal… não sairemos nunca da situação de solavancos no pagamento das remunerações aos funcionários e agentes do Estado.

 

Dá a ideia de que alguém nos está a sabotar. Não conhecendo esse alguém, registo aqui que estamos-nos a sabotar a nós mesmo!

 

ME Mabunda

terça-feira, 13 junho 2023 10:41

Aos edis to be: saibam o que prometem!

MoisesMabundaNova3333

Entramos já em Junho. Faltam praticamente quatro meses para o 11 de Outubro, a data em que os residentes de autarquias irão votar nas figuras que gostariam que estivessem à frente dos municípios onde residem nos cinco anos subsequentes. Nas próximas semanas, vamos ter dos partidos políticos e ou instituições da sociedade civil - já que a lei permite que estas apresentem - os candidatos a candidatos a presidentes e a membros das assembleias dos vários municípios do país, num total de 65. Como vão ser eleitos internamente nas suas organizações, é matéria de outro texto, sabendo como sabemos que cada uma delas tem procedimentos próprios. Uns, mais coerentes, lógicos, bem estruturados; outros, “de desenrasca”, arbitrárias, sem critérios claros e coerentes, intransparentes, nepotistas e menos democráticos.

 

Quatro meses não é muito tempo. Primeiro, nem são bem quatro meses porque ainda não temos sequer os tais candidatos a candidatos a cabeças de lista eleitos ou apontados… ao que tudo indica, só vamos tê-los dentro de 15 dias a um mês, por aí em Julho. E, portanto, aí estaremos a falar de… apenas três meses. O que piora o cenário. Alguém precisa de ser gênio para, em três meses, preparar, apresentar e divulgar um manifesto eleitoral bem elaborado, estruturado, inclusivo e abrangente, até para com os seus camaradas. É certo que a eleição já não é directa, não se elege directamente o candidato a presidente de município, mas o partido e este formalmente endossa o seu cabeça de lista; e, por causa disso, os partidos ou as organizações já devem estar a preparar os manifestos, ou tê-los prontos. Mas… mas… o cabeça de lista tem - deve ter - muito envolvimento na elaboração do manifesto eleitoral de cada autarquia, afinal, é ele que vai estar à frente e lidar directamente com os munícipes, prestar-lhes contas, dar-lhes satisfação, implementar e zelar pelo cumprimento do manifesto. Ai daquele candidato a candidato que não for o protagonista do manifesto eleitoral que a organização de que é cabeça de lista está a preparar (ou vai preparar)! Corre o risco de ser aquele menino a quem mandam ir somente ler um documento, mas que não sabe de que se trata, o que foi prometido aos eleitores, o que está no manifesto e, por conseguinte, não passa de um papagaio.

 

Não há muito tempo para a elaboração de um documento consequente sobre a vida dos munícipes, envolvendo-os estratégica e metodologicamente. Assim como não há muito tempo para o cabeça de lista socializar o manifesto da sua organização com as pessoas que pretende governar. Não há muito tempo igualmente para a divulgação do manifesto e para as tentativas de convencimento dos eleitores sobre o seu manifesto. Teremos, sim, as campanhas eleitorais; mas aí estaremos mais num cenário de exposição de ideias do que propriamente de discussão.

 

Muito provavelmente, uma vez mais, o que vai acontecer não será a eleição de uma determinada formação por ter apresentado o melhor manifesto. Mas… votar por votar, votar pelo seu histórico político, pela simpatia ou alinhamento político do eleitor. E assim vai a nossa democracia.

 

Ainda que este seja o quadro, em que essencialmente o cabeça de lista não tem tempo suficiente para elaborar um manifesto coerente e consequente e depois socializá-lo satisfatoriamente, permito-me lançar um apelo às formações/organizações que vão entrar em campo - e muito particularmente aos cabeças de lista. O apelo é muito simples e claro: não sejam como o músico Avelino Mondlane, que prometeu tudo à namorada a troco de não ser traído: carro, avião, casa, tudo, tudo. Não prometam mundos e fundos, sonhos que não vão conseguir realizar, ou concretizar. Ainda que o manifesto seja da organização a que pertencem, quem vai ser cobrado pela sua implementação ou não, pelo seu sucesso ou não, são as vossas pessoas. São as vossas cabeças que estarão em jogo.

 

Lembremo-nos de uma experiência muito recente na nossa história de governação municipal. Em grande parte dos municípios, senão em todos, os edis que vão substituir, aproximadamente um ano ou meses depois de terem sido eleitos e se instalarem nos gabinetes, desencadearam uma guerra sem quartel jamais vista no nosso panorama político, nas nossas urbes, nas nossas estradas. A guerra contra os vendedores de rua! Em muitas cidades municipais, vimos e ouvimos ao vivo uma guerra desenfreada, sem quartel, uma autêntica caça aos vendedores de rua, como se de criminosos se tratasse; em algumas cidades, vimos autênticas batalhas campais em grandes avenidas, praças ou locais que há muito estavam tomados por vendedores de rua. Em muitas estradas, vimos polícias caninas acompanhadas de akm’s e bastões a escorraçar os vendedores de rua das bermas das estradas. Houve batalhas raramente vistas pelo mundo. E temporariamente lograram os propósitos, aparentemente os vendedores abandonaram as ruas. No entanto, hoje, volvidos dois, três anos, podemos dizer numa única linha que foi simplesmente uma guerra inglória e perdida. Os vendedores de rua, hoje por hoje, e em quase todo o país, voltaram a passear a sua classe. Num ou noutro ponto, ainda se vislumbra um ou outro policial… mas, grosso modo, os vendedores da praça dos combatentes, Estrela, Guerra Popular… etc. e etc. voltaram a campear!

 

A questão é: será que aquela guerra foi bem pensada? Terá havido uma estratégia desenhada antes de se ir à tal guerra? Qual era a sua essência? Estava-se a combater o quê e a quem? Quem são os vendedores de rua? Conhecemo-los? Aquela era a melhor forma de abordar o assunto? Não haveria outras alternativas? Quem ganhou a guerra?

 

Pouco importa se a tal guerra estava ou não inscrita nos manifestos eleitorais. Quer estivessem inscritas, quer não, certo é que os edis que combateram esses combates saíram a perder. Ficou o registo de que combateram uma guerra para a qual não estavam devidamente preparados, não a conheciam e nem lhes ocorrera sequer que seria… uma guerra prolongada e que precisava de uma abordagem estrutural, mais do que bélica! E que a perderam.

 

Não façam como o Avelino Mondlane!…

 

ME Mabunda

terça-feira, 06 junho 2023 07:23

Quando incapazes de nos autodiagnosticarmos!

Bastou um estalar de dedos do FMI para corrermos a mil a hora para revermos em baixa os salários dos titulares dos órgãos de soberania e dos servidores públicos, numa palavra, dos nossos big bosses e… dignos representantes! Não fomos capazes de, nós mesmos, com os nossos próprios olhos, vermos que estávamos a caminhar para o abismo. Nem se quer a proeza atingida o ano passado, 2022, jamais vista e registada em todos os anos da nossa independência nacional em que tal instituimos, de não conseguirmos pagar o décimo terceiro salário aos funcionários e agentes do nosso Estado, nos despertou para o quase holocausto perante o qual estamos (estavamos?, oxa lá sim!) de não podermos pagar salários.

 

É lamentável que assim tenha sido. Que tenha sido só a palavra do Fundo Monetário Internacional a entrar nos nossos ouvidos. Significa que nós não temos capacidade de nos autodiagnosticarmos; não temos capacidade de auto-análise, de nos auto-auditarmos; de vermos que estamos a caminhar no mato. Perdemos as sensibilidades cognitivas, ficamos sem intelecto. Triste e profundamente decepcionante para uma sociedade que almeja algo diferente, bom e fluorescente.

 

E sinais de perigo não faltaram. Nem era/é preciso conhecimento bastante apurado para perceber que “algo errado não estava certo”! Pelo mundo, não há estado algum em que 70 por cento do seu orçamento seja para pagamento de salários! Quer dizer, todas as outras rubricas, incluindo ou sobretudo a de investimento, têm que caber nos restantes 30 por cento. Não há, entre nós, quem não tenha conhecimento deste facto, é público! Acredito que os que nos dirigem podem não ter a real dimensão da enormidade, porque absortos em outros propósitos; mas já não é crível, nem aceitável que os nossos muitos crânios, interna e externamente, não estejam cientes. Seja qual for a situação, facto, facto é que está aqui desnudada a nossa incapacidade de nos autodiagnosticarmos! 

 

Mais triste ainda, é que preferimos entender o que quisemos do alerta do FMI; não propriamente o que ela aconselhou. Aquela instituição recomendou, vivamente, diga-se, o emagrecimento da massa salarial na Função Pública. Ante esse texto, entendemos nós que era para somente reduzir os salários dos bigs. Reduzir o salário dos bigs, se bem que racional, oportuna e pertinente, é um paliativo para os desafios que se nos colocam. Não é mau reduzir-se os exorbitantes salários e regalias dos bosses, mas isso representa pouco no colossal rol de esbanjamentos orçamentais no nosso solo pátrio!

 

A título de exemplo, podemos ver algumas “coisas” e práticas que inflacionam grandemente o nosso orçamento de estado. Uma primeira é a duplicação de estruturas, somos exímios em duplicar instituições. Governador e Secretário de Estado Provincial. Na prática, o que temos tido desde a implementação desta medida são dois governadores provinciais e mais os administradores dessas cidades, com todas as mordomias associadas. Isto é pura e simplesmente um esbanjamento de fundos, sem sentido e bastante desnecessário. Eu sou de abolir os secretários de estado!

 

O nosso segundo centro de esbanjamento de fundos é a proliferação de ministérios. Não é racional, nem temos recursos para tal, haver um ministério para cada área. Temos muitos ministérios que não se justifica que sejam independentes, alguns deles podem caber num só e serem eficientes. O grupo educação, ensino superior, ensino técnico, ciência e tecnologia,  pode e muito bem formar um único ministério. O grupo agricultura, terra, ambiente pode estar num ministério. O grupo mar, águas interiores, recursos hídricos (qual a diferença entre águas interiores e recursos hídricos?) pode também estar num só pelouro. Defesa e combatentes podem ser um ministério. Trabalho, emprego, acção e segurança social (qual a fronteira entre acção social e segurança social?) podem ser agrupados numa pasta. Precisamos de entender que não temos recursos para termos um ministério para cada área social importante e que o mais relevante não é propriamente ter ministério, mas ter uma política e estratégia adequadas para determinada área e muito boa governação.

 

Uma outra componente que erode grandemente o erário público são as múltiplas viagens presidenciais internas. Não há, literalmente, uma semana em que não há visita presidencial a uma província. Há mais viagens presidenciais do que ministeriais e muito menos até de governadores  e/ou secretários de estado a postos administrativos ou localidades. Não que o Presidente da República não deva visitar as províncias, mas nos nossos moldes dá a ideia de que é ele que superintende directamente as províncias ou as actividades sectoriais e ou distritos. É preciso que tenhamos ciente dos custos de uma viagem presidencial, são elevados, elevadíssimos; mexe com uma enorme quantidade de recursos (humanos, financeiros e materiais). Os mundos e fundos que é preciso movimentar… e, feitas com a frequência com que fazemos, não há saco azul que aguente. E ligados a estas deslocações, temos as cerimónias de inauguração. Não que o chefe do Estado não deva inaugurar realizações. Deve, sim. Mas tenhamos ciente os enormes custos que tais representam envolvendo-se a figura de chefe de Estado e que arruínam qualquer estrutura financeira; e muito boas vezes tratam-se de infraestruturas que bem podiam ser inauguradas por ministros, governadores ou secretários de estado...

 

Os valores que gastamos nestas práticas apontadas aqui e noutras mais, como a corrupção desenfreada que está de vento em popa, bem podiam constituir um pé de meia para muitas preocupações que nos afligem, como a falta de medicamentos nos hospitais, estradas e outras vias de acesso precaríssimas, falta de carteiras e de transporte público. Ao assobiarmos para o lado, ou tomarmos aspirina ante problemas de grande profundidade, ou estamos a revelar incapacidade cognitiva de nos autodiagnosticarmos, ou deliberadamente estamos a negligenciar o interesse colectivo da nossa nação!

 

MMabunda

terça-feira, 06 junho 2023 07:18

Quando incapazes de nos autodiagnosticarmos!

MoisesMabundaNova3333

Bastou um estalar de dedos do FMI para corrermos a mil a hora para revermos em baixa os salários dos titulares dos órgãos de soberania e dos servidores públicos, numa palavra, dos nossos big bosses e… dignos representantes! Não fomos capazes de, nós mesmos, com os nossos próprios olhos, vermos que estávamos a caminhar para o abismo. Nem se quer a proeza atingida o ano passado, 2022, jamais vista e registada em todos os anos da nossa independência nacional em que tal instituimos, de não conseguirmos pagar o décimo terceiro salário aos funcionários e agentes do nosso Estado, nos despertou para o quase holocausto perante o qual estamos (estavamos?, oxa lá sim!) de não podermos pagar salários.

 

É lamentável que assim tenha sido. Que tenha sido só a palavra do Fundo Monetário Internacional a entrar nos nossos ouvidos. Significa que nós não temos capacidade de nos autodiagnosticarmos; não temos capacidade de auto-análise, de nos auto-auditarmos; de vermos que estamos a caminhar no mato. Perdemos as sensibilidades cognitivas, ficamos sem intelecto. Triste e profundamente decepcionante para uma sociedade que almeja algo diferente, bom e fluorescente.

 

E sinais de perigo não faltaram. Nem era/é preciso conhecimento bastante apurado para perceber que “algo errado não estava certo”! Pelo mundo, não há estado algum em que 70 por cento do seu orçamento seja para pagamento de salários! Quer dizer, todas as outras rubricas, incluindo ou sobretudo a de investimento, têm que caber nos restantes 30 por cento. Não há, entre nós, quem não tenha conhecimento deste facto, é público! Acredito que os que nos dirigem podem não ter a real dimensão da enormidade, porque absortos em outros propósitos; mas já não é crível, nem aceitável que os nossos muitos crânios, interna e externamente, não estejam cientes. Seja qual for a situação, facto, facto é que está aqui desnudada a nossa incapacidade de nos autodiagnosticarmos! 

 

Mais triste ainda, é que preferimos entender o que quisemos do alerta do FMI; não propriamente o que ela aconselhou. Aquela instituição recomendou, vivamente, diga-se, o emagrecimento da massa salarial na Função Pública. Ante esse texto, entendemos nós que era para somente reduzir os salários dos bigs. Reduzir o salário dos bigs, se bem que racional, oportuna e pertinente, é um paliativo para os desafios que se nos colocam. Não é mau reduzir-se os exorbitantes salários e regalias dos bosses, mas isso representa pouco no colossal rol de esbanjamentos orçamentais no nosso solo pátrio!

 

A título de exemplo, podemos ver algumas “coisas” e práticas que inflacionam grandemente o nosso orçamento de estado. Uma primeira é a duplicação de estruturas, somos exímios em duplicar instituições. Governador e Secretário de Estado Provincial. Na prática, o que temos tido desde a implementação desta medida são dois governadores provinciais e mais os administradores dessas cidades, com todas as mordomias associadas. Isto é pura e simplesmente um esbanjamento de fundos, sem sentido e bastante desnecessário. Eu sou de abolir os secretários de estado!

 

O nosso segundo centro de esbanjamento de fundos é a proliferação de ministérios. Não é racional, nem temos recursos para tal, haver um ministério para cada área. Temos muitos ministérios que não se justifica que sejam independentes, alguns deles podem caber num só e serem eficientes. O grupo educação, ensino superior, ensino técnico, ciência e tecnologia,  pode e muito bem formar um único ministério. O grupo agricultura, terra, ambiente pode estar num ministério. O grupo mar, águas interiores, recursos hídricos (qual a diferença entre águas interiores e recursos hídricos?) pode também estar num só pelouro. Defesa e combatentes podem ser um ministério. Trabalho, emprego, acção e segurança social (qual a fronteira entre acção social e segurança social?) podem ser agrupados numa pasta. Precisamos de entender que não temos recursos para termos um ministério para cada área social importante e que o mais relevante não é propriamente ter ministério, mas ter uma política e estratégia adequadas para determinada área e muito boa governação.

 

Uma outra componente que erode grandemente o erário público são as múltiplas viagens presidenciais internas. Não há, literalmente, uma semana em que não há visita presidencial a uma província. Há mais viagens presidenciais do que ministeriais e muito menos até de governadores  e/ou secretários de estado a postos administrativos ou localidades. Não que o Presidente da República não deva visitar as províncias, mas nos nossos moldes dá a ideia de que é ele que superintende directamente as províncias ou as actividades sectoriais e ou distritos. É preciso que tenhamos ciente dos custos de uma viagem presidencial, são elevados, elevadíssimos; mexe com uma enorme quantidade de recursos (humanos, financeiros e materiais). Os mundos e fundos que é preciso movimentar… e, feitas com a frequência com que fazemos, não há saco azul que aguente. E ligados a estas deslocações, temos as cerimónias de inauguração. Não que o chefe do Estado não deva inaugurar realizações. Deve, sim. Mas tenhamos ciente os enormes custos que tais representam envolvendo-se a figura de chefe de Estado e que arruínam qualquer estrutura financeira; e muito boas vezes tratam-se de infraestruturas que bem podiam ser inauguradas por ministros, governadores ou secretários de estado...

 

Os valores que gastamos nestas práticas apontadas aqui e noutras mais, como a corrupção desenfreada que está de vento em popa, bem podiam constituir um pé de meia para muitas preocupações que nos afligem, como a falta de medicamentos nos hospitais, estradas e outras vias de acesso precaríssimas, falta de carteiras e de transporte público. Ao assobiarmos para o lado, ou tomarmos aspirina ante problemas de grande profundidade, ou estamos a revelar incapacidade cognitiva de nos autodiagnosticarmos, ou deliberadamente estamos a negligenciar o interesse colectivo da nossa nação!

 

MMabunda

terça-feira, 30 maio 2023 11:54

Nem tudo está perdido!

MoisesMabundaNova3333

Casimiro é um homem muito bem parecido, apesar dos seus quase sessenta anos, elegante, não muito alto, mas por aí um metro e setenta; não muito forte, barriga não excessivamente grande, mas aquela que agrada a elas. Um homem atraente, bonito, cabelo grisalho, assim como a barbicha no queixo, o que também as atrai mais. É um homem bem sucedido na sua carreira de engenheiro mecânico e na sua vida em geral. Não é propriamente empresário, tipo empresário de sucesso ao nosso jeito, mas vive muito bem, folgado. Leva uma vida acima da média, com umas tantas propriedades, todas já construídas, em diferentes bairros da capital e, à nossa moda, muitos terrenos vazios espalhados por aí. Em termos de frota automóvel, dispõe de um parque de viaturas acima do comum, até certo ponto invejável, troca de fobanas sempre que lhe apetecesse. Ele e a sua querida esposa. É um homem que curte verdadeiramente a vida, sem limitações. Não tem, como nosso apanágio, nosso e dos muçulmanos, muitas esposas: tem uma só. Mas… mas… mete-se com qualquer uma que anda na rua. Tudo o que luz ou respira (tsakuta), ataca. E não lhe escapa nada. A sua estratégia é não deixar bandeira, bate e foge. Não deixa muitas mágoas: não promete mundos e fundos, não; diz-lhes que não é para casar, ele já está casado e não tem intenção alguma de se separar da esposa. É só para curtir. Talvez por causa dessa franqueza, para além do charme e dos “subsídios” que facilmente disponibiliza, elas quase nunca lhe negam. Põe e dispõe daquela que lhe apetece, naquela sua estratégia de “bate e foge”! Mas, de certa forma, /eraé comedido, não se mete com damas casadas, ou com colegas. Varre pela rua fora. Aparentemente, nunca teve problemas de maior. Começa e termina sem escaramuças. De rebentos na diáspora, justiça lhe seja feita, nunca se lhe ouviu falar.

 

É/era assim a vida do Casimiro Matchai. Ele que gosta de um bom copo, não é preso a uma bebida específica, cerveja, vinho, gin, whisky… nāo. Numa ocasião, podia beber e bem cerveja, para, na ocasião seguinte, beber vinho e numa outra, outra coisa tipo whisky. Não misturava as bebidas, mas não gostava obstinadamente de uma determinada. Mensalmente, visitava a barraca do Mangwavilane, ali no Estrela, onde fazia compras das suas bebidas e levava para casa. Ocasionalmente, podia passar por semana para prover a sua garrafeira ou colman. A barraca do Mangwavilane, que mais se assemelha a um verdadeiro botle story do que propriamente a barraca, a única diferença era que as bebidas estão espalhadas no chão, não tem muitas prateleiras. Mas, em termos de diversidade, tinha quase todas as bebidas. Aos fins de semana e feriados, é normal haver filas consideráveis.

 

Durante mais de 20 anos, Matchai comprava os drinkings no Mangwavilane! Já era um cliente especial, privilegiado. Quando chegasse com enchente, o dono procurava maneira de despachar o sr. Casimiro. Até que um dia… sempre um dia! Foi ao Mangwavilane procurar um tipo de gin que lhe tinham recomendado… não havia! E o empregado recomendou que fosse à barraca/botle story ao lado, dez metros, que havia. E lá foi.

 

Havia o gin que procurava. Mas o que lhe chamou a atenção foi a “caixa”: era uma miúda fora de série. Lindíssima. A sua jovialidade perdia-se no seu corpo esbelto, violino, uma cara bonita, de mulher mesmo! Casimiro Matchai ficou completamente perdido. Quando a moça lhe pediu o dinheiro da bebida que pedira, a trapalhice foi tal que não sabia se da carteira tirava o dinheiro ou o cartão de crédito. Acabou pagando e ele não se lembra se pagou  via uma ou outra modalidade! Desde esse dia  em diante, deixou de ir comprar as suas bebidas no Mangwavilane, passou a frequentar a barraca ao lado. Esta, ao contrário da primeira, tinha mais organização, com um compartimento organizado de estantes para garrafas.

 

Dois por três, Casimiro estava ali mais a contemplar a Isaltina do que a comprar bebidas. E um dia, não havendo muita clientela, ousou pedir o número de telefone da linda miúda. Esta deu o número da casa, não o dela particular.  Registou-o com todo o carinho, suspirando de alívio. Esfregando as mãos para mais um… bate e foge!

 

Ao quarto dia, ligou para aquele número que tinha recebido das mãos dela. Para seu espanto, quem atende é a voz de um moço. Ficou completamente baralhado, aquela voz dócil desapareceu logo, mas ainda ganhou imaginação para dizer que “falhei o numero”! Dia seguinte, foi fingir que ia comprar alguma bebida e nisso conseguiu perguntar à moça se o número fornecido era pessoal dela, ao que ela respondeu que não. Pediu o dela e ela aplicou o truque conhecido, “não tenho telefone”. Naquele dia não respondeu nada, mas num outro dia, que calhou não haver clientela a não ser ele, voltou à carga e confessou o seu desejo de andar com ela. Porque chegaram clientes, interromperam a negociação. No momento de pagar, ainda atirou uma nota de duzentos meticais, mas ela devolveu-lho, dizendo que não era preciso. Ficou confuso, mas foi-se embora!

 

Porque tinha cada vez menos sono, para lá voltou mais um dia e a sorte acompanhou-lhe. Quase não havia um cliente, o último era aquele que estava a pagar e a ir-se embora! E sem perder mais tempo, disparou:

 

  • Mulher, não me queres mesmo? Vou-te comprar telefone…

 

  • O sr. tem idade de meu pai, assemelha-se ao meu pai. Não posso andar com pessoas da idade do meu pai. Nāo veja o meu corpo grande, sou crianca de 21 anos! Sempre que olho para o senhor, só vejo meu pai…

 

Casimiro Matchai não conseguiu palavra alguma para redarguir.

 

Nem tudo está perdido na nossa sociedade!

 

ME Mabunda

quarta-feira, 24 maio 2023 20:04

Impunidade total

MoisesMabundaNova3333

A impunidade é um mal muito grave para uma sociedade. Estamos diante de impunidade quando, em clara violação da lei e das regras de convivência social, humana, a instituição (ou indivíduo) de direito não sanciona, não toma as medidas que devia tomar para restabelecer a ordem normal, a justiça e a harmonia. Uma sociedade em que grassa a impunidade é uma sociedade em que a justiça não tem significado nem a sublime importância devida. É uma sociedade em que reina o mais forte, não o justo, o correcto, ou o ético. É uma sociedade sem razoabilidade, sem equilíbrio, nem estabilidade social. Reina quem pode e como pode; manda quem pode; faz quem pode e como quer e pode. Como na selva!

 

Numa sociedade onde reina a impunidade, não há justiça, não há harmonia, não há felicidade, não é sadia; as acções em contra-mão são toleradas, aceites, e sempre passam aparentemente despercebidas. Os injustiçados sofrem, sofrem até ao sufoco, até à morte espiritual, ou mesmo e muitas vezes material. Uma sociedade sem justiça é uma sociedade insegura, propensa a uma ruptura social, à violência: os injustiçados não toleram a injustiça para todo o sempre, tenderão sempre a fazer justiça à sua maneira e com as suas próprias mãos. Procurarão recorrer à vingança, à desordem e à violência.

 

Uma sociedade de impunidade e de vingança não é uma sociedade com valores sociais aceitáveis, de ética, desenvolvida, estável, em concórdia; é uma sociedade em guerra, sem paz, sem sossego. A justiça traz consigo a harmonia e esta leva ao desenvolvimento social, econômico e político. Não há uma sociedade em guerra que esteja a desenvolver-se.

 

A nossa tende a ser uma sociedade de impunidade. Exemplos são aos magotes, dia após dia! Práticas e procedimentos que noutros quadrantes dariam claras penas de morte, entre nós passam despercebidas. E mesmo se percebidas, faz-se de contas que o não foram. A corrupção campeia aos olhos menos atentos,  e não há nenhuma acção enérgica séria visível. Parece que todos estamos amarrados aos rabos uns de outros. Aqueles que deviam exercer a justiça parecem presos aos prevaricadores. São revelações atrás de revelações bombásticas, escandalosas, irracionalidades e irracionalidades, mas nada acontece, aqueles de direito deviam, nunca fazem patavina. Ou, se fazem, é para distraírem as atenções dos injustiçados e ou sedentos de justiça, dos incautos, ou dos que advogam uma sociedade de justiça - “para inglês ver”, como se diz.

 

Um dos muitos bons exemplos de impunidade é do que falava há dias. Depois de uma deslocação a Hati Hati, algures em Gaza, falava eu das péssimas condições em que se encontra o troço Mohambe-Maqueze-Hati Hati-Chigubo. O que afinal eu desconhecia era que sobre o troço há contratos entre a ANE - Delegação Provincial de Gaza e a S Construções  Xai-Xai, um ainda em vigor e outro terminado em Junho de 2021, para a sua manutenção. Curiosamente, os dois contratos foram com o mesmo empreiteiro, a S Construçōes - Xai-Xai.

 

O contrato em vigor, de 1/06/2021 a 30/06/2023, com o custo de 6 446 287,80Mt, visava especificamente a “manutenção de rotina da estrada terraplanada R855 Maqueze- Changanine, extensão 30 km, na base do sistema do acampamento”. Fiscal é a Nippon Koei Mozambique. Nem acampamento, nem manutenção, nem uma buldozer avariada e abandonada, nem nada. Nada! Junho é já para a semana, o contrato vai terminar, a estrada continuará péssima como está e vai piorar a cada chuvada que aparecer e os nlhanganinenses, esses, continuarão a sofrer a bom sofrer.

 

O contrato que já expirou tinha como propósito a “manutenção do troço Mohambe-Maqueze, 54km”, o mais crítico agora, e tinha como período de implementação Dezembro de 2019 a 30 de Junho de 2021, com o custo de 11 260 951, 31Mt e fiscal a COTOP. Certo, certo, é que o contrato terminou e de estrada não se viu patavina e muito menos agora, passado um ano e tal - que o digam os maquezianos e outros compatriotas daquelas bandas, como o comerciante local Betuel. Se tivesse havido um bom trabalho de base, a estrada não estaria tão péssima como está! E com as chuvas…

 

Cerca de 18 milhões de meticais saíram dos cofres do Estado para a manutenção da estrada. Foram embolsados. Nheto feito. A população de Maqueze, Nlhanganine, Hati Hati, Chigubo continua a sofrer como sempre, sem estrada! Com aquela estrada que só danifica as pobres viaturas que conseguem comprar com muito sacrifício. Onde estão as autoridades de direito? O dono da obra? O fiscal fez/faz alguma coisa? O empreiteiro, cadê ele? Entregou ele a obra? Quem a recebeu?... E as Unidades anti não sei o quê!...

 

Impunidade total. Inação, omissão, indiferença, deixa-andar, cumplicidade…. Impávido e sereno está quem devia mexer a palha. Que sociedade pretendemos? De impunidade! De revoltosos? De justiça com as próprias mãos? De tumultos…

 

ME Mabunda

terça-feira, 16 maio 2023 09:20

Jonas Ernesto Binda Chitsumba

MoisesMabundaNova3333

O Costa do Sol preencheu, por fim, no pretérito sábado, a vacatura aberta na sequência da partida precoce de Jonas Chitsumba a 28 de Novembro do ano passado, 2022. O perecido era colega na EDM e amigo! Praticamente, ele é que me introduziu na EDM!

 

Na mensagem fúnebre da Direcção a que Chitsumba estava afecto nos últimos dias da sua vida, podia ler-se: “Como endereçar-te uma mensagem de despedida? Como elaborar um elogio fúnebre? Como te dizer adeus? Se tu estás nos nossos olhos! Nas nossas vistas; na nossa mente; nos nossos corações. Ainda sentimos em nós a tua energia, a tua força, pujança e serenidade, a tua alegria! O teu dinamismo muito contagiante!  Nós ainda não aceitamos que partiste. Para nós, tu foste para Temane, em mais uma missão de serviço! Para nós, tu foste a Inhambane ver o andamento do projecto da Central Termo-eléctrica de Temane (CTT), de que eras digno Director e Gestor! Para nós, logo, logo, voltarás e nos insuflarás com o teu dinamismo, com a tua voz sibilante e muito audível! Continuaremos a usufruir da tua presença ruidosa nos corredores e salas da nossa Direcção de Desenvolvimento de Negócios!”

 

Com a devida vênia, faço minhas estas palavras, integralmente. Como faço minhas também as seguintes, que cito da mesma mensagem: “Custa-nos ouvir, aceitar e acreditar que jamais voltarás de Temane. Se foste inúmeras vezes e voltaste! Foste, voltaste, foste e voltaste! Custa-nos muito encarar que nos deixaste para todo o sempre. Que jamais sentiremos o teu fulgor. Que não mais beneficiaremos dos teus profundos conhecimentos, do teu saber muito alargado; da tua liderança galvanizante e estimulante; da tua grande capacidade de gestão. Que não mais teremos o teu coração humanista entre nós!” E acrescento que, depois de tudo, não mais ouvirei “é isso aí, meu caro Mabunda”, como me dizias sempre, depois de… fosse o que fosse!

 

Esta, confesso, foi a razão por que, cinco meses após a morte do Chitsumba, não consegui rabiscar nada. Ainda estou à espera do Chitsumba para… mais uma tirada por aí, ou em Vilankulo, ultimamente, ou na Beira, Nampula, ou em Pemba! Mas, o passo dado pelo Clube de Desportos do Costa do Sol - também ele muito incrédulo com o que se passou - deixa muito bem claro que o nosso amigo, irmão e colega partiu definitivamente para o além! E que só temos de aceitar, embora com olhos esbugalhados.

 

A minha entrada na EDM, em 2006, coincide mais ou menos com a transferência dele de Director Regional Norte para Director de Distribuição (DD) e na sequência disso tinha que viver para Maputo.  Como DD, tinha a grande responsabilidade de dinamizar todas as então Áreas de Distribuição (agora Delegações) por todo o país, uma espécie de director nacional.  E eu acabava de ser recrutado para… também eu… dinamizar a divulgação das muitas e imensas realizações da Empresa! A proximidade das missões de cada um de nós, se fosse para dar certo, só podia dar em casamento sólido!... e deu!

 

Entrei em Novembro, mas, já em Dezembro, antes de completar um mês sequer, já lá estava eu com uma missão de jornalistas de vários órgãos de informação nacionais, em digressão pelo país, a visitar os mais vistosos projectos da EDM, com Jonas Chitsumba na liderança da delegação, não só a apresentar-me aos colegas em todas as direcções, mas a abrir todas as portas. Ponto por ponto, ele e o director local é que prestavam os esclarecimentos necessários aos jornalistas. Em cerca de duas semanas, batemos quase todo o país - Pemba, Nampula, Nacala, Quelimane, Beira, Chimoio e Província de Maputo.

 

Assim começava uma relação de trabalho que foi muito profunda e que deu numa amizade inapagável. Ele, detentor de informação de utilidade pública e eu, divulgador de informação. Muitas mais digressões com jornalistas faríamos ao longo dos seus seis anos como Director de Distribuição e muitas aventuras teríamos... Mas, mais digressões juntos faríamos também por causa dos eventos da Empresa. O modelo de gestão em vigor tinha/tem reuniões nacionais regulares em diferentes pontos do país - reuniões de prestação de contas, reuniões de balanço e reuniões de debates sobre várias outras matérias. Lá estávamos, ou lá nos encontrávamos, trabalhávamos, curtíamos… e mais alguma coisa!

 

Obviamente que nem só de trabalho vive o homem! Nestas andanças todas pelo país real, muita coisa acontecia, deixando à imaginação do querido leitor! A sua transferência para a direcção das Áreas da Cidade e Província de Maputo, em 2012, apenas refreou a frequência dos contactos, do trabalho em conjunto, das conversas, mas estes continuariam até agora que ele dirigia o projecto da construção da Central Térmica de Temane!

 

Foi-se um amigo, um amigo dos seus amigos, uma pessoa que nunca andava de testa amarrada, que nunca olvidava o confronto com jornalistas, que nunca se exaltava nas milhentas discussões e debates que mantínhamos, a sós ou com outros presentes, incluindo jornalistas; com um riso (não sorriso) genuíno, estridente, contagiante! Nenhum jornalista desdisse o Chitsumba ao longo desse tempo! Nunca!

 

Caro Colega, Amigo e Irmão Jonas Ernesto Binda Chitsumba, vá e descanse em paz! Mas viverás para sempre nos nossos corações! - citando de novo a mensagem dos colegas da Direcção de Desenvolvimento de Negócios.

 

ME Mabunda

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