Por que uma Universidade homenagearia a vida e a arte de um músico? Muitas pessoas poderão perguntar por que a UP-Maputo não está a homenagear grandes nomes da ciência de Moçambique e de outros lugares do mundo. Sim, também já homenageamos pessoas com esse perfil. E ainda renderemos cumprimentos a muitas outras, neste centenário de Eduardo Mondlane. Reconhecer as diferentes pessoas que fazem do nosso país um lugar melhor para viver e contribuem para a socialização do conhecimento, nas suas mais variadas expressões, científica, cultural, artística e política, é uma tarefa da universidade pública.
Importa recordar que formamos novas gerações num mundo cada vez mais individualista e competitivo, no qual as disputas são mais apelativas do que a solidariedade. Por isso, somos responsáveis por apresentar a esta juventude os fundamentos essenciais da vida, cultura e fraternidade. A ciência também é feita de beleza, de arte, de amor e de companheirismo.
Reconhecer as pessoas mais queridas, ou até anónimas, que contribuem para tornar o nosso país e mundo melhores, que enchem os nossos corações com as mais belas expressões artísticas e nos fazem compreender que é possível e necessário nunca separar ciência, artes, sensibilidade e delicadeza, é também uma tarefa importante da universidade.
Entendemos que escutar um músico como Gabriel Chiau e se inspirar na melodia do seu trompete, conhecer a sua história de vida, tomar conhecimento de um grande músico tão premiado, que nunca se esqueceu do lugar de onde veio, é uma tarefa formadora para a juventude e para os docentes da UP-Maputo. Revela-nos as múltiplas maneiras possíveis de construir conhecimento. Reforça o lugar das artes na formação das pessoas. Inspira-nos a entender que a ciência não pode existir dissociada do potencial humano do sentir, amar, poetizar. Antes, é preciso entender que, sem essas dimensões humanas e sociais, a produção científica se torna fria, impassível, pouco solidária como o sofrimento humano.
Por isso, ao rendermos essa homenagem a Gabriel Chiau gostaríamos de afirmar o quanto a sua história e a sua música educam a todos nós e ao nosso país. Ficamos orgulhosos e felizes ao saber que Moçambique tem sido a fonte inspiradora de tão bela poesia, musicalidade e sentimento.
Se homenagear Gabriel Chiau pela sua competência, produção musical, carreira e compromisso é algo inquestionável, acrescentamos que, além dessas reconhecidas características, a sua música é também conhecimento.
Por isso, homenageá-lo em vida, além de reconhecimento e agradecimento por toda a sua dedicação à música, é um dever da nossa universidade. Não existem dúvidas sobre o talento e a grandiosidade de Gabriel Chiau. Este percurso lhe confere o estatuto de decano da música Moçambicana. Chiau é e será sempre um exímio compositor, interprete e instrumentista.
O Bairro de Chamanculo, lugar que marca a vida e trajetória de Gabriel Chiau, abriga uma das mais brilhantes mentes de Moçambique, de uma competência e sensibilidade musicais impressionantes e de uma sensibilidade humana inquestionável. A opção de não deixar as suas raízes é uma das características deste músico admirável e, talvez, seja aquilo que mais o inspirou ao longo de décadas.
A sua música nos sensibiliza porque nos identificamos com ela e, certamente, essa identidade tem a ver com o fato de ser produzida no mesmo universo cultural, social e musical que compartilhamos: a vivência cotidiana de Moçambique. A essa dimensão local, Gabriel Chiau acrescentou outros conhecimentos e sensibilidades musicais, técnicas e culturais aprendidos e inspirados em outros lugares e artistas do mundo.
Por tudo isso, reconhecemos Gabriel Chiau como um músico admirável e o parabenizamos pela sua história, trajetória e produção musical. E o agradecemos pelo fato de que, em meio a tanto reconhecimento e fama, nunca deixou de ser um homem do povo.
Esse exemplo, a UP-Maputo espera que seja compreendido e seguido pelas novas gerações que formamos e inspire os docentes e discentes a compreenderem a múltiplas possibilidades da construção do conhecimento que vão além da sala de aula e laboratórios.