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segunda-feira, 16 agosto 2021 03:06

Terroristas em Cabo Delgado mantêm as suas forças e capacidades intactas - analistas

Especialistas alertaram que os terroristas em Cabo Delgado, norte de Moçambique, “têm muito boa informação” e por isso retiraram-se de Mocímboa da Praia antes de as tropas moçambicanas e ruandesas chegarem no último domingo, mantendo as forças “intactas”.

 

“Devemos ter presente que os insurgentes têm muito boa informação, boa inteligência, e estavam já bem informados sobre o que estava para acontecer, quer em relação ao Ruanda quer ao que está a ser preparado no âmbito da SADC” (Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, na sigla em inglês), sublinhou Jasmine Opperman, investigadora da ACLED - Armed Conflict Location and Event Data Project, uma organização não-governamental especializada na recolha, análise e mapeamento de dados relativos a conflitos.

 

“Recorde-se que apreenderam muitos veículos e que têm os meios para se deslocar rapidamente. Por isso, quando as forças moçambicanas e ruandesas chegaram não houve batalha, não houve quaisquer combates”, acrescentou.

 

Para esta analista, “a explicação é óbvia: a maior parte dos insurgentes tinha saído, dividiram-se em grupos pequenos e dispersaram-se na região". "Tenho a sensação de que preparam alguma coisa, mas não quero ir por aí”, comentou.

 

Em causa está o anúncio, no domingo passado, da reconquista da vila de Mocímboa da Praia, considerada por muitos a “base” dos grupos insurgentes que têm protagonizado ataques armados em Cabo Delgado desde 2017.

 

A operação foi conduzida por uma força conjunta que integra militares de Moçambique e do Ruanda, país africano que tem, desde o início de julho, cerca de mil militares e polícias em Cabo Delgado para apoiar Moçambique na luta contra os grupos armados.

 

As primeiras imagens divulgadas pela imprensa moçambicana mostravam uma vila quase fantasma e com várias infra-estruturas destruídas, nomeadamente hospitais, escolas e empresas, além das instalações do porto e do aeroporto.

 

Eric Morier-Genoud, investigador e professor de História de África na Queen’s University, em Belfast, faz uma leitura semelhante à de Opperman. Diz que os insurgentes se retiraram porque “fizeram uma avaliação, perceberam que não valia a pena combater e retiraram-se”.

 

“Há a notícia de 33 homens mortos, mas infelizmente não apanharam nenhum dos chefes da insurgência na retomada de Mocímboa da Praia, que era tida como a capital dos insurgentes”, sublinhou ainda Morier-Genoud.

 

Para este investigador e analista, “há dois factos importante a notar na retomada de Mocímboa: um é que a insurgência continua intacta e outro é que os seus meios também". "Portanto, temos a vila recuperada, mas a situação militar e o equilíbrio das forças continuam os mesmos, por enquanto”, acrescentou.

 

Grupos armados aterrorizam a província de Cabo Delgado desde 2017, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico. Na sequência dos ataques, há mais de 3.100 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED, e mais de 817 mil deslocados, segundo as autoridades moçambicanas. (Lusa)

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