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quinta-feira, 19 março 2020 03:22

“Xibedjane” e a outra face de Magude: O retrato de raparigas que casaram e tornaram-se mães na adolescência

Aliado à “luxuosa vida” que levavam ou levam os caçadores furtivos no distrito de Magude, na província de Maputo, estão os casamentos prematuros e gravidezes precoces em menores de idade. No trabalho jornalístico efectuado pela “Carta”, naquele distrito, em concreto nos Postos Administrativos de Panjane e Mapulanguene, raparigas de 16 e 17 anos de idade contaram à nossa reportagem que já estiveram ou estão no lar.

 

Aliás, dados oficiais, a nível do Governo distrital de Magude, indicam que, em 2018, foram registados 29 casos de uniões prematuras e, em 2019, registram-se 34, tendo as autoridades sensibilizado 13 raparigas que saíram do lar e voltaram à escola. Lázaro Mbambamba, Chefe do Governo do Distrito de Magude, defendeu a necessidade de ter paciência de educar as nossas filhas e não apressar para o lobolo.

 

Tomando como exemplo os membros do seu governo, do sexo feminino, Mbambamba disse que as famílias devem educar as suas filhas para que um dia possam ser um exemplo e servir a nação. Face ao problema das uniões prematuras, “Carta” conversou com duas adolescentes e uma jovem de 20 anos de idade, mas que contraiu o matrimónio com 15 anos de idade.

 

No povoado de Inunhuane, no Posto Administrativo de Panjane, pouco mais de 50 km da vila-sede, “Carta” conversou com Lina Chongo, uma rapariga de 17 anos e mãe de um menino de dois anos de idade.

 

Lina revelou à nossa reportagem que engravidou aos 14 anos de idade e frequentava, na altura, a 5ª classe na Escola Primária Completa de Panjane. À “Carta”, contou que já esteve no lar, mas não correu como o previsto, pelo que teve de voltar para casa dos pais. Entretanto, avança que não pensa em voltar para escola, dedicando-se, assim, à comercialização de bebidas tradicionais e à prática de agricultura de subsistência e pastorícia.

 

Quem ainda permanece no lar é Aida Samuel, de 20 anos de idade, que também terá contraído matrimónio aos 14 anos de idade, sendo agora mãe de dois filhos. Conta que se casou, devido às condições sócio-económicas da sua família, na altura.

 

As autoridades da educação, a nível do Posto Administrativo de Panjane, contam que os casamentos prematuros são uma realidade naquele local, tudo porque os jovens que se submetem à caça furtiva, logo que voltam demonstram uma pujança económica que as famílias das raparigas facilmente cedem.

 

Diferentes individualidades ouvidas pela nossa reportagem, em Magude, corroboram que a caça furtiva levou muitas raparigas a casarem-se cedo, devido à pobreza que as mesmas enfrentavam nas suas famílias, levando com que os pais fizessem as mesmas lobolarem.

 

Refira-se que um estudo recente, realizado pela Brotar Moçambique, tendo como amostra 222 pessoas do Posto Administrativo de Mutaze, em Magude, revelou que quase todos os entrevistados admitiram conhecer uma rapariga que está no lar. (Omardine Omar)

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