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segunda-feira, 27 março 2023 03:40

Ataques em Cabo Delgado: ACNUR alerta para “situação extremamente precária” em Palma

A população de Palma, distrito dos projetos de gás no norte de Moçambique, continua em situação extremamente precária, alertou hoje o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), apesar da melhoria das condições de segurança.

 

“A situação de segurança em Palma melhorou desde os ataques de há dois anos”, mas “a população continua em condições de proteção e de vida extremamente precárias”, lê-se num comunicado.

 

A declaração do ACNIR assinalou o dia em que, em 2021, grupos armados invadiram a vila sede de distrito, num ataque “que resultou em dezenas de mortes” e levou dezenas de milhar a fugir, agravando a crise humanitária em Cabo Delgado.

 

O ataque levou também à suspensão das obras do complexo industrial de liquefação de gás, o maior projeto privado de África, da ordem dos 20 mil milhões de euros.

 

“Desde a altura, mais de 70.000 pessoas já voltaram para suas casas e 10.000 deslocados internos encontraram abrigo em cidades de outras áreas”, detalha a agência das Nações Unidas.

 

De acordo com dados do ACNUR, recolhidos em entrevistas a 7.425 famílias de Palma, “as necessidades mais urgentes são o acesso à documentação civil e a meios de subsistência”.

 

Ao mesmo tempo, 70% dos entrevistados relataram não ter acesso a abrigo, 64% disseram não ter alimentação e 43% queixou-se de não ter serviços de água e saneamento.

 

O ACNUR diz estar a trabalhar “em estreita colaboração com uma série de atores, incluindo o Governo, para fornecer serviços urgentes de proteção e assistência às pessoas deslocadas e às comunidades que as acolhem”.

 

Até este mês, as operações do ACNUR em Moçambique “tinham sido financiadas em apenas 18% de um total de 47,4 milhões de dólares necessários para fornecer proteção e assistência aos necessitados”, concluiu. 

 

Na quinta-feira, num evento que também assinalou os dois anos após o ataque a Palma, os Médicos Sem Fronteiras (MSF) referiram que a província de Cabo Delgado “está longe de estabilizada” e que o medo e as necessidades humanitárias até se agravaram nalguns distritos, apesar da melhoria junto aos projetos de gás.

 

A província de Cabo Delgado enfrenta há cinco anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

 

A insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021 com apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região e na vizinha província de Nampula.

 

O conflito já fez um milhão de deslocados, de acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, e cerca de 4.000 mortes, segundo o projeto de registo de conflitos ACLED.(Lusa)

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