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quinta-feira, 28 abril 2022 05:33

O conflito e a reconstrução de Cabo Delgado são palcos de interesses egoístas de actores locais, regionais e internacionais – Joseph Hanlon

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Esta é a opinião de Joseph Hanlon, especialista em Moçambique e conferencista sénior da Open University, Milton Keynes, do Reino Unido, que falou durante o webinar do Instituto de Estudos de Segurança (ISS) da África do Sul, intitulado "Reconstruindo Cabo Delgado: quem vai beneficiar?"

 

"Cabo Delgado não é apenas uma guerra contra os terroristas. Há grandes batalhas acontecendo entre forasteiros querendo fazer parte da acção", disse Hanlon.

 

Ele também colocou a África do Sul, Portugal – o ex-colonizador – e os EUA, como tendo interesses adquiridos, mas que não eram a escolha de Moçambique para combater o terrorismo dos extremistas islâmicos.

 

"Vários países querem uma presença militar em Moçambique, incluindo três países, África do Sul, Portugal e Estados Unidos, com pretensões imperiais que Moçambique não quer, mas deve aceitar. É precisamente por isso que Moçambique queria o Ruanda e não eles", disse no webinar.

 

Hanlon também os colocou como forças concorrentes, as agências de ajuda humanitária, tendo confrontos com o governo sobre como deveriam operar. "Há uma briga entre todas as agências de ajuda que querem ajudar. Actualmente, existem quatro grupos de ajuda diferentes tentando coordenar a ajuda em Cabo Delgado; enquanto o governo tenta forçar a ajuda (a vir) através do Conselho de Ministros e do presidente Filipe Nyusi", disse o especialista.

 

Ele também fez referência a um "punch up" sobre "quem recebe contratos e comissões", bem como o que realmente era a guerra e o plano real do governo para a reconstrução. "O governo não está incentivando os 800.000 (mais ou menos) deslocados a voltar para casa. Em vez disso, ele quer que a indústria de ajuda cuide deles onde estão agora indefinidamente".

 

Embora houvesse várias escolas de pensamento em torno das causas do terrorismo, uma das mais proeminentes eram as queixas dos residentes locais marginalizados da economia local e nacional por décadas.

 

Como tal, Hanlon disse que a ajuda deve ser usada para lidar com esses problemas, se a paz for estabelecida. "A alternativa é aceitar que as queixas tiveram algum papel e usar o dinheiro da ajuda e reconstrução primeiro para empregos e formação e depois envolver a comunidade local", afirmou Joseph Hanlon.

 

O plano de reconstrução foi idealizado pelo governo moçambicano que o anunciou em Setembro do ano passado e apresentado à SADC e à comunidade internacional. Mas, a sua fraqueza, de acordo com os críticos, é que é uma abordagem de cima para baixo que falhou por não ter consultado os intervenientes (stakeholders).

 

Hanlon acrescentou que as pessoas no terreno não foram auscultadas. "As pessoas no terreno apenas foram informadas que estamos a fazer planos para vocês sem falar com elas", implicando que Nyusi e seus poucos escolhidos no governo estavam no comando de tudo. "Mesmo o governador eleito de Cabo Delgado é incluído nas reuniões apenas para prestar assistência, não para instruir", disse Hanlon.

 

Com a situação actual do Plano de Reconstrução, a guerra poderá prolongar-se por mais tempo do que o previsto, mesmo que a área onde a TotalEnergies tinha as suas operações fosse protegida por forças ruandesas, o terrorismo permaneceria nos outros distritos de Cabo Delgado.

 

"A guerra vai continuar noutros distritos de Cabo Delgado e a espalhar-se por partes do Niassa e Nampula. Vai manter o exército e a polícia empregues de forma lucrativa. A guerra significa que o dinheiro está a entrar em Moçambique e há  pessoas que estariam perfeitamente felizes", assinalou Hanlon. (Carta)

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